29.12.08

irrita

tudo pára no fim do ano. é irritante, as pessoas vão viajar, as pessoas vêem visitar, é festa pra todo canto, é festa pra todo lado. só uma palavra pode descrever isso: irritante.

é irritante como todo mundo arranja lugares para ir. é irritante como todo mundo arranja lugares para ficar. e tudo pára. congestiona e fica chato. não entendo por que todo mundo viaja. não entendo por que tudo pára. não há motivo para tal. natal é um saco, ano novo é um saco. pessoas se amontoando na avenida brasil para ver as luzes idiotas de natal são um saco. (as pessoas amontoadas na paulista também.)

esse ano vou abolir o ano novo. acabei de decidir. não vou à festas, aliás, não preciso de desculpa para beber. a festa da paulista no ano novo me irrita. o fato de todos os botecos fecharem me irrita. decoração de natal me irrita muito. a obrigação de comprar presentes de natal também é irritante. a necessidade de fazer festa no último dia do ano também irrita.

aboli, vou ficar em casa, na internet no fim do ano.

ponto.

26.12.08

comunicado

natal, ano novo, fim de ano, problemas com o speedy. ê.

sumi porque metade da minha família veio de outros estados e está hospedada na minha casa. o "escritório" virou dormitório de visitas, logo, não posso ficar numa boa para escrever de madrugada. fora esse problema, o speedy teima em não funcionar no fim do ano. é tradição do speedy. estou conectada com um modem 3g que a conexão é lerda. grande primo que trouxe o notebook com o modemzinho dele. tenho um conto a vir, só que só será escrito quando a situação se normalizar.

no mais, fiz uma tatuagem e um piercing que só quem for especial vai poder ver.já to de saco cheio da família aqui. e também do speedy. sempre teima em não funcionar quando tem algo interessante para se fazer na internet. murphy.

o resto é a normalidade de sempre. mas, infelizmente, não vou poder ter a liberdade de ser criativa de madrugada. então, nas próximas semanas, minha presença será um tanto escassa nesse pedaço de web.

21.12.08

seis coisas.

eu deveria ter escrito e publicado um conto novo hoje, mas fiquei mais entretida pesquisando players e política de envio internacional.

para não ficar sem atualizar, como fui linkada pela lay, vou responder os negócios aí.

As seis regras:
1 - Linkar a pessoa que te indicou.
2 - Escrever as regras do meme em seu blog.
3 - Contar 6 coisas aleatórias sobre você.
4 - Indique mais 6 pessoas e coloque os links no final do post.
5 - Deixe a pessoa saber que você o indicou, deixando um comentário para ela.
6 - Deixe os indicados saberem quando você publicar seu post.

as seis coisas aleatórias:

1- sou baixinha porque quando era bebê gastei todo o hormônio de crescimento. quando tinha seis meses tinha tamanho de uma criança de um ano e pouco. fiz tratamento para crescer e acabei com 1,55m.

2- tenho uma família estruturada, pais casados e que se dão bem e ainda transam, irmãos idiotas, tios loucos e retardados. todo o sarcasmo e ironia embutidos e mim são obra de anos vivendo na minha família, que é a família mais sarcástica e irônica que eu conheço.

3- nunca procurei emprego na minha vida. absolutamente todos os empregos que eu tive eu consegui por idicação. nunca fiz dinâmica de grupo também. e eu aposto que se eu fizesse, eu seria contratada.

4- eu sou uma pessoa totalmente racional. quando eu gosto de alguém é porque eu me permito gostar da pessoa. quando eu não devo mais gostar de alguém, eu deixo de gostar facilmente. também não fico muito tempo na fossa, a média ultimamente tem sido de três dias a uma semana.

5- eu já fiquei por mais de um ano na fossa. talvez seja por isso que agora eu não fique mais tanto tempo. ou eu cavei o fundo do poço e cheguei do outro lado, ou eu consegui uma escada rolante.

6- mesmo sem ter quase aptidão alguma para coisas artísticas, eu quero viver de arte. eu penso logicamente e racionalmente, eu deveria ser cientista ou alguma outra coisa do tipo. mas eu nunca quero o que é fácil, sempre o que é difícil. e eu ainda acho que eu vou ficar rica com uma banda ou escrevendo o livro que eu quero escrever (e é por causa disso que esse blog existe e que eu tenho escrito contos). mas eu ainda acho que eu vou ficar rica de algum jeito. então, se você, menina bonita e inteligente que lê esse blog, não quer passar por uma interesseira, se apaixone por mim agora que eu garanto felicidade e prosperidade para o resto da sua vida.




agora eu teria que escolher seis pessoas para mandar esse negócio. mas eu sou uma pessoa horrível e sempre quebro correntes, então, ninguém vai responder isso de novo.

15.12.08

vanguarda

to orgulhosa de mim. tenho escrito bastante. e acho que a qualidade tá legal, sempre tem o que e onde melhorar, mas para o princípio depois de anos sem escrever tá funcionando.
to numa fase que meu ego tá maior ainda, então eu aposto que eu estou uma pessoa detestável de tanto que se acha a fodona. mas eu sou fodona, e isso é fato.
balanços de fim de ano são idiotas. planos de começo de ano também. e quem faz isso é idiota também. não gosto de decoração de natal, do papai noel, só gosto da rena do nariz vermelho. mas é só porque ela tem cara de idiota. não gosto do ano novo também. não vejo motivo para comemorar ou fazer festa. é idiota. amigo secreto é idiota também. só entrei no do trampo porque tem que fazer a média e záz. confraternizações são um pé no saco.
acho que tantas coisas são idiotas, incluindo a mim mesma, mas eu sou idiota por opção, não pela falta de. e eu me orgulho da minha idiotice, porque até ela é melhor que a alheia. eu sou foda. no melhor sentido da palavra.
fins de semana têm sido legais. gente idiota, vodka e cigarro. virar noites seguidas. dormir para quê? agradeço a mim mesma pelos amigos que eu tenho. alguns são fodões também. ficar no boteco discutindo política, educação, o fim do mundo em 2012 e sobre como o cigarro é injustiçado na sociedade. botecos são divertidos. pessoas bêbadas também. como eu não tenho ficado bêbada com maior freqüência, tenho tido mais oportunidade de rir dos bêbados. é divertido rir de bêbados, mas continua sendo mais divertido quando se está bêbado também.
família. puta, família é um pé no saco. principalmente aqueles parentes que moram em outro estado e querem se hospedar na sua casa. odeio ter que mudar minha rotina por causa de alguém. odeio não fazer o que eu quero na hora que eu quero por causa de alguém. sou individualista mesmo, e aí?
esse amontoadinho de palavras só serve pra nada. talvez seja para não deixar de escrever quando eu sinto vontade. talvez seja só pra não lotar esse blog com contos e o blog ficar chato por isso. talvez eu devesse ter posto mais ordem nessas coisas, mas o legal é ficar tudo estranho mesmo. é vanguarda isso.
e que fique claro: eu sei por que meu ego está tão alto. é auto-proteção mesmo, e daí? sou loser assumida. .(mentira, nem sou, é só pra fazer a médiazinha de loser.).

12.12.08

planos

planos. muitos planos. desde antes de se casarem fizeram planos sobre tudo. aliás, duas famílias tradicionais como aquelas não poderiam deixar de fazer planos sobre uma união estável - e lucrativa - entre elas. essa história não é sobre a união entre essas tradicionalíssimas famílias, é sobre o fruto que ela gerou. mas comecemos nos primórdios...

essas duas famílias se conheciam há muito tempo. desde que os patriarcas se encontraram fazendo pós-graduação em uma faculdade do exterior. mantiveram contato. não por gostarem um do outro, mas por saberem que os dois eram ótimos nos negócios e poderiam fazer uma parceria interessante. graduaram-se e voltaram à sua terra natal. cada um abriu sua empresa. casaram e constituíram família. cada um dos patriarcas só teve um fruto genético em seu casamento. uma família com um fruto cromossômico xx e a outra com xy.

um dia, anos depois, as matriarcas se encontraram no salão de beleza. uma convidou a outra para uma festa de ano novo. e fez questão que a filha e o marido dela fossem. quando ela chegou em casa e repassou a informação à família, a filha não gostou muito da idéia. tinha planejado outras coisas para aquela data. porém, o patriarca fez questão de chantageá-la propriamente para que ela resolvesse ir.

noite da festa. a família se deslocou até o apartamento de cobertura em que a festa ocorreria. a filha estava encostada em um canto observando as coisas. serviço de buffet, garçons, canapés, champagne, charutos e um rapaz muito interessante que parecia tão entediado quanto ela. juntou-se a ele e conversaram. ela descobriu que o rapaz interessante era, na verdade, filho do casal de amigos de seus pais. conversaram por horas. conversaram sobre tudo. o ano mudou e continuaram conversando. a festa acabou e continuaram conversando. dias passaram e continuaram conversando por telefone. até que descobriram estarem apaixonados. contaram às suas respectivas famílias. como a tradição manda, fizeram um jantar de comemoração.

comemoração e negócios, aliás, se o namoro fosse bem sucedido, a riqueza de seus filhos seria dobrada, as empresas distintas se fundiriam e todos ganhariam mais dinheiro. houve um conchavo para que o relacionamento desse certo. uma parte da família escondia fatos aqui, uma parte da outra família escondia fatos alí... depois de poucos anos se casaram. depois da lua de mel ao redor do mundo, da ação para fundir as empresas, da compra de algumas propriedades e mais alguns ajustes usuais, resolveram tentar ter um filho. afinal, não haveria motivo para tal império se não houvesse um herdeiro. a filha virou mãe e o filho virou pai. e é aqui onde a história começa.

planejaram tudo. projetaram uma casa nova com segurança para uma criança nascida em berço de ouro. pesquisaram escolas antes mesmo da criança nascer. planejaram o futuro da criança, faculdades, cursos de pós graduação, esportes a serem praticados e instrumentos musicais a serem dominados. só não planejaram o casamento porque não queriam ter nenhuma ligação com os povos bárbaros do oriente. a criança nasceu e era um menino. um menino saudável, bonito, que cresceria e representaria muito bem a união milionária entre as famílias. e escolheram um nome simples para o garoto.

o garoto não viu muito os pais até a adolescência. estavam sempre trabalhando. sentia falta deles, mas tinha três empregados para fazerem o que quisesse, desde que estivesse na lista de atividades permitidas por seus pais. sempre foi um garoto carinhoso, bonito e inteligentíssimo. sua mãe mostrava fotos dele para todos os homens com quem tinha casos extra-conjugais. seu pai, também, sempre mostrava fotos dele para todos os homens com quem tinha casos extra-conjugais. eram pais orgulhosos.

o garoto cresceu, se tornou um adolescente belo e saudável - mas mesmo assim, ele continuará a ser chamado de garoto -, daqueles que são alvo de desejo de todas as adolescentes belas e saudáveis. mas algo aconteceu nesse meio tempo. ele não se divertia mais. o que ele tinha não era mais o que ele queria. o que ele deveria fazer o enojava e negava todas suas crenças. mas continuou fazendo. continuou por pressão familiar, por medo de decepcionar família tão fortunada que lhe proporcionava tudo que qualquer pessoa poderia querer. continuou, cursou a faculdade que seus pais planejaram. depois da graduação, ficou por semanas na cama. só se levantava para ir ao banheiro. seus pais contrataram os melhores psiquiatras do país e foi diagnosticado. depressão. alguns meses de terapia foram necessários para que chegasse ao conhecimento paterno que o garoto não queria seguir a profissão que ele estudara. então foi sugerida outra carreira para que aprendesse.

e ele cursou a faculdade. não como antes, perdia todo seu tempo no bar com as pessoas de ciências humanas. experimentou drogas, novas experiências e conheceu a mulher de sua vida. ela tinha um estilo meio hippie-chic com uns toques futurísticos à lá filme de ficção científica, esse tipo de coisa paradoxal que só pessoas de ciências humanas conseguem fazer, e era bonita.

teve que subornar o reitor da faculdade, muito conceituada, para se formar. se formou e sentiu a pressão de sua família novamente. cama, depressão, meses de terapia de novo. chegou a um estado tão deplorável que sua família ficou apavorada. se recusava a tomar remédios e começou a se boicotar. tentava de todas as maneiras possíveis demonstrar para sua família que aquela vida que eles queriam que seguisse não era a vida que ele planejara para si. até que conseguiu.

em uma força tarefa envolvendo avós e pais, o único herdeiro do império foi inteligentemente forçado a um jantar tradicional em família. depois da sobremesa, veio a pergunta que todos queriam ter feito, mas seu avô foi o único com coragem para fazê-la:

- o que você quer da sua vida, filho?

diante da maior pergunta de sua vida, o garoto tremeu. ele não esperava por isso e resolveu ser sincero:

- o que eu quero? eu quero mesmo é ser palhaço!

um silêncio absurdo decaiu sobre a casa, os olhares perplexos de reprovação de sua família em direção a ele só não o mataram, porque justamente nessa hora ele prestou atenção à conversa que vinha dos empregados na cozinha. então o clima pesado foi destituído por sua mãe:

- então seja um bom palhaço!

e todos os planos que tinham sido feitos há anos foram por água abaixo.

10.12.08

post mortem

putz! morri. e agora? eu nem listei as coisas que eu queria que fizessem. nem avisei ninguém que não queria que ninguém ficasse triste porque eu finalmente realizei meu último e solene grande sonho. nem fiz a lista dos meus bens e pra quem eu quero que eles fiquem. eu sabia que deveria ter sido mais prudente com relação à isso, estava óbvio que alguém com o tipo de vida que eu levava não passaria dos vinte e poucos.

queria que meu enterro fosse tradicional. com familiares e amigos jogando punhadinhos de terra sobre um caixão. queria ter velório e pessoas falando sobre mim. falando sobre o quanto eu era legal, o quanto eu era uma boa pessoa, o quanto eu era especial e o quanto eu faço falta. mas não, preferi viver intensamente sem nem me preocupar com a última festa. como fui imbecil!

tudo bem, tudo bem, eu assumo. grande parte da tradicionalidade do meu enterro se basearia na minha intrínseca necessidade de atrapalhar a vida dos outros. fazer todos saírem da rotina. fazer com que ficassem numa sala se policiando para não rir e contrabandeando bebidas e fumando escondido. apesar que no meu enterro seria tudo liberado. bebida, alguns tipos de drogas e cigarro, mas muito cigarro mesmo. queria uma aura esfumaçada para dar uma ambientação mais legal. queria também pessoas bêbadas. pessoas bêbadas são muito legais. ainda mais em um velório. um velório sem ninguém bêbado não é um velório memorável. e o que eu queria era ficar para a história.

queria também que todas as pessoas que me conheceram fossem ao velório. seria engraçadíssimo como aquele monte de gente se portaria junto. pessoas do trabalho, meus amigos de paetês, os junkies, os bêbados, os idiotas, os certinhos... eles não saberiam conviver no mesmo espaço por muito tempo. acho que ficariam grupos de pessoas espalhados pelo salão com meu caixão no meio. porque, como é meu enterro, eu deveria ser o centro das atenções. pelo menos uma última vez.

não haveria padre, sacerdote, pai de santo, monge ou afins. não fui batizada nem segui qualquer religião por muito tempo. quem falaria no meu enterro seriam as pessoas mais próximas a mim. se eu tivesse sido mais prudente, teria feito a lista das pessoas que eu queria que falassem. porque eu nem sou do tipo de pessoa que quando morre vira santo. não, eu não quero virar santa. queria que todos falassem dos meus podres. de como eu conseguia ser escrota e acabar com tudo que foi dificilmente construído em questão de segundos. mas eu ainda acho que os pontos positivos superariam os podres. então seria uma última massagem ao ego antes de ir para a eternidade, ou falta de.

as únicas pessoa que eu realmente queria que falassem no meu enterro seriam minha mãe, dois amigos e a outra parte do meu ex relacionamento. por quê? oras, mas é obvio, seriam discursos que se anulariam. eu não seria nem uma pessoa muito má, nem muito boa. minha mãe e a outra parte do meu ex relacionamento falariam bem mal de mim. meus dois amigos falariam muito bem. deixe-me elucidar um ponto: minha mãe e a outra parte do meu ex relacionamento falariam mal de mim porque são as duas pessoas que mais me conhecem no mundo, e essas duas pessoas sabem como a podridão reinava em meu ser. as outras só sabem o que eu quis demonstrar ao longo da minha vã existência.

e haveria música também. nada de trilha sonora. uma única música que seria repetida incessantemente até o último ser vivo sair do salão. a música em questão seria coughing colors e sua letra e tradução, previamente feita por mim, seria distribuída entre os presentes. todos deveriam ser encorajados a cantar e alguém seria destacado a interpretar a canção em relação a mim. porque eu também deveria mostrar meu lado brega em meu velório.

no fim do velório umas seis dykes carregariam meu caixão até o carro funerário. e iriam todos em carreata até o cemitério. carreata que deveria passar pela avenida paulista e pela esquina da rua frei caneca com a rua matias aires. só depois se dirigiria ao cemitério. e eu não gostaria de um cemitério verde, arborizado e bonito. não, eu queria um cemitério cinza e com aspecto de assombrado. queria também que colocassem no meu caixão, como faziam com os faraós no antigo egito, maços de cigarro, umas três garrafas de vodka boa e meu isqueiro ronson. depois disso, e de alguém desmaiar, poderiam encerrar o enterro e descer o caixão.

mas como eu não fui prudente e sempre vivi aos extremos, não deixei nada disso documentado e foi tudo do jeito que acharam que deveria ser, não do jeito que eu gostaria que fosse. sou uma morta frustrada por conta disso.

7.12.08

não leia se estiver comendo

comia. comia vorazmente. comia mais que um faminto à frente de um prato de comida. era gorda. imensamente gorda. mais gorda do que você imaginou. além de tudo isso, era uma pessoa atordoada. não tinha amigos, colegas ou qualquer tipo de relacionamento afetivo com qualquer ser vivo. as pessoas que trabalhavam com ela tinham um certo asco por sua imagem, tamanho e postura. ela era o tipo de pessoa que não conseguia alcançar seus próprios pés.

não que ela fosse uma sociopata ou coisa assim, mas desde sempre teve dificuldades em lidar com outros seres que não ela. nunca, nem jamais se tocou. nunca se masturbou, tampouco teve um orgasmo. seu único prazer era comer, ensandecidamente. ao contrário do que possa pensar, ela não era frustrada, nunca teve plano algum sobre sua vida, nem nunca quis mudá-la. jamais pensou na possibilidade de mudança. sozinha, se uma palavra pudesse defini-la, essa era a palavra certa. vivia bem, para seus padrões. o dinheiro que conseguia era o suficiente para pagar todas suas despesas - que, em sua maioria, era comida.

um dia, entretanto, ela se cansou. se cansou da vida que levava, se cansou do trabalho que tinha, se cansou de não alcançar seus pés e se cansou de ler revistas femininas que falavam sobre a melhor posição para excitar seu parceiro. se cansou, mas não se deprimiu ou qualquer outro status desses distúrbios psicológicos. mas queria se vingar, queria ser notada por alguma coisa, queria chocar. porém, tudo que ela sabia fazer era seu trabalho mecânico e comer. o trabalho não poderia ajudá-la em muita coisa para chocar o mundo. só lhe restava comer. passou alguns meses pensando sobre o que poderia fazer para conseguí-lo. até que teve uma idéia. uma idéia genial, ela pensou. uma idéia que mudaria a sociedade.

planejou e colocou a idéia em ação, no horário de almoço de uma quarta feira. estava em um shopping bem localizado e bem freqüentado. com uma praça de alimentação enorme. foi a todos os restaurantes e pediu o maior item do menu. na hora do pagamento, pedia a todos que levassem o pedido até sua mesa. mesa, esta, que acabou virando uma fileira de mesas com pratos e mais pratos enormes. e ela comeu. comeu muito. comeu muito mais do que já comera no horário de almoço. depois que já estava completamente cheia, comeu mais. muito mais, mais do que o equivalente a uma semana de almoços.

as pessoas que presenciaram a cena - que não eram poucas, por sinal - ficaram cada vez mais enojadas de presenciarem a cena. mas, como seres humanos naturais, esperaram até saber o desfecho.

até que ela regurgitou. regurgitou em cima de uma bandeja que estava a sua frente. jogou a bandeja para o lado e continuou comendo o conteúdo da bandeja que seguia. quando estava quase terminando o prato, regurgitou de novo, mas dessa vez, ela se virou para que não caísse na comida. ao fazer isso, seu corpanzil deu um jeito de quebrar a cadeira e ela caiu no chão. ficou estatelada, de costas para o chão, com as pernas gordas presas ao que restou da cadeira um tanto levantadas. e vomitou. vomitou muito. alguém comentou depois do fato que ela parecia uma fonte de vômito.

daí para frente foi efeito dominó. as madames que tomavam seus cafés argelianos absurdamente caros começaram a vomitar. as crianças que se lambuzavam com sorvete começaram a vomitar. os executivos ocupados que não paravam de trabalhar nem na hora do almoço começaram a vomitar sobre seus papéis. os funcionários do estabelecimento começaram a vomitar sobre tudo e todos. quase se formou um rio de comida semi digerida boiando em líquidos mal cheirosos que saiam dos estômagos das pessoas. chamaram a polícia e o corpo de bombeiros. que, quando chegaram, vomitaram também.

depois de algumas horas e muito trabalho, todas as pessoas presentes foram atendidas. a essa altura, já havia câmeras e muitos repórteres esperando na porta do shopping. uma equipe conseguiu furar o bloqueio policial e transmitiu, ao vivo, a situação de calamidade encontrada no lugar. os telespectadores desavisados vomitaram também em suas casas. virou assunto público. daqueles que são explorados incessantemente em programas vespertinos de televisão. virou assunto tão público que foi digno de nota nos maiores jornais impressos e televisivos do país.

quanto à causadora de tanto caos não restou muita coisa. por conta de sua posição ao cair com a cadeira quebrada, se asfixiou e morreu afogada em seu próprio vômito.

e ela conseguiu o que queria.

5.12.08

trabalho

o trabalho é uma merda. trabalhar é uma merda.como meu sábio primo já disse um dia, se fosse algo bom, não te dariam dinheiro para fazê-lo.

o que é estranho é que todas as vezes em que eu estive destruída, acabada, fodida, ida ada ada ida, foi o trabalho o que me ajudou a me levantar e a superar/melhorar.

não sei o que aquelas pragas burras fazem comigo, mas eu tenho a sensação de que eles me ajudam quando eu preciso. é piegas e clichet falar isso, mas talvez seja a mais pura verdade. nada como uma aula bem dada ou uma piada idiota de alguém para largar todas as coisas ruins e preocupações porta afora. eu estava super bem hoje, na raivinha básica de: "a vida é uma merda, nunca mais vou fazer nada desse tipo de novo e se deus não me matar em breve ele vai ver que o diabo era fichinha", daí uma ligação muda completamente meu humor, é incrível como certos hábitos nunca deixam de existir. daí toda a raivinha virou tristeza. perdi a vontade de fazer toda e qualquer coisa, mas temos que trabalhar. o circo não pode parar and the show must go on. entrei em sala. aulas maravilhosas. não só por minha causa, grande parte do crédito vai para meus burricos preferidos. o fato é que eles me animaram, saí das últimas aulas bem como se nada tivesse acontecido. é lógico que o efeito passa com o tempo, mas fuciona melhor que lítio. (não que eu já tenha experimentado, mas sempre serve de base científica para provar algum tema)

o que é mais legal dessa relação professor - alunos é que é uma reação de dupla troca. quando eu estou bem e alguns deles mal ou estressados, são eles que saem mais leves da sala de aula. é um tanto mágico essa coisa que eu consegui criar. fazer parte do meu trabalho ser terapia, tanto para mim, quanto para eles. isso é bonito e é isso que eu gosto no meu trabalho. mudar as vidas dos meus burricozinhos todas as vezes que eles entram na minha aula.

estranho é eu começar a escrever esse punhado de palavras e vir uma das minhas alunas mais inteligentes falar comigo no mensageiro. dei aula para ela há anos e ela ainda lembra de mim. é gratificante.

meu trabalho é uma merda, mas pelo menos uma parte salva.

3.12.08

eu sou

eu sou uma pessoa das mais ímpares possíveis. ao mesmo tempo que eu acho que eu sou o máximo, eu acho que eu sou mais desprezível que um parasita intestinal. não tenho muitas virtudes nem qualidades, mas mesmo assim me considero superior a quase tudo e todos. é um tanto paradoxal ser eu.

um dia, um amigo me disse que ele nunca tinha encontrado alguém com o ego tão grande quanto o dele, mas ele falou que o meu ego o supera. segundo ele, ou um amigo dele, não me lembro bem, nossos egos são monstros mitológicos, que se não tomarmos cuidado eles engolirão e destruirão tudo que existe a nossa volta.

o fato é que eu me considero mais inteligente que o resto do mundo. não o resto do mundo inteiro, mas cerca de noventa por cento dele. parte disso é culpa do meu trabalho. tentar fazer as pessoas entenderem coisas não é, digamos, algo que faça acreditar na inteligência humana.

eu sou também compreensiva. até demais. eu tenho a incrível capacidade de me colocar na situação das pessoas que fizeram alguma cagada pra mim, entendê-las e ignorar o fato. isso tem me fodido de tal forma que eu estou pensando em editar essa capacidade tão nobre da minha personalidade.

eu sou também escrota. eu sou escrota até demais. uso dos piores meios possíveis para conseguir o que eu quero. jogo com as pessoas, as ludibrio, chantageio e mais uma porção de coisas. nunca infringi nenhuma lei para conseguir o que eu quero, mas se algum dia for necessário, não sei se a minha honestidade dará conta do recado.

sou honesta também. não o tanto que eu gostaria que fosse, mas muito mais que a média brasileira de honestidade. não que seja difícil ser mais honesta que brasileiros, mas é que eu acho que meu padrão de honestidade é finlandês.

o fato é que eu me acho superior. me acho superior a quase todas as pessoas. talvez seja porque eu sei usar as preposições adequadas para as coisas, talvez não. provavelmente não. o fato de eu ser intelectualmente superior as pessoas quase anula o fato de eu me achar feia.

não é que eu seja feia de fato, tem gente muito mais feia que eu, mas eu sou perfeccionista. e minha aparência não é perfeição alguma. mas eu acho que com meia hora de tiradas geniais e joguinhos para mostrar o quão fantástica eu sou, eu conquisto qualquer pessoa que exista na terra. qualquer pessoa mesmo, desde que essa pessoa tenha o mínimo de senso de humor, porque se não tiver, eu também não me interessaria.

é dito sobre mim que eu não sou humilde. oras, humildade não é hipocrisia. eu sou humilde nas coisas que eu sei que eu não sou muito boa e nas coisas que eu sei que eu devo melhorar para atingir o padrão que eu quero. a questão é que meu padrão é alto e que não tem muitas coisas que eu não seja muito boa. aí aparenta que eu me acho superior sem ser. mas sempre é só uma questão de tempo até eu mostrar que eu sou tudo o que eu falo que sou e até um pouco mais. então eu discordo das pessoas que dizem que eu não sou humilde.

apesar de ser tanta coisa, eu não sou arrogante. trato a tudo e a todos com o mesmo respeito e honestidade que eu gostaria que fossem desprendidos a mim. para mim, por mais que eu seja superior às pessoas, todos merecem respeito e admiração. nunca trato qualquer pessoa do mundo como se ela fosse inferior, por mais que eu realmente pense que a pessoa em questão é inferior ou que ela precisa evoluir em algum aspecto. portanto, se você me conhece, você nunca notará se eu me considero superior a você ou se você faz parte dos dez por cento.

mas o fato é que eu sou tão acima da média que eu ainda não achei alguma coisa que eu quisesse fazer e não conseguisse. até as coisas que ninguém jamais acreditou que eu conseguiria fazer eu consegui.

por essa tamanha capacidade de realizar coisas eu penso: se eu estou na merda é porque eu quero estar lá.

1.12.08

prazer.

vamos elucidar a ocorrência desse novo blog. meu blog antigo era hospedado no blogger brasil, que foi sacanamente comprado pela globo.com. esta, por sua vez, resolveu que o sistema de blogs só seria disponível para assinantes. como eu me recuso a pagar qualquer coisa para postar no meu, que existia desde 2003, descontinuei aquele blog.

a hora não poderia ser mais oportuna, re-editando minha vida, nada melhor que deixar coisas velhas para trás. aqui serão publicados contos, fatos cotidianos do dia a dia (pleonasmo proposital) e o que mais me ocorrer.

vamos ver até quando o acesso por esse domínio será gratuito.

tornozelos

ele olhava para os próprios tornozelos. ninguém sabe bem ao certo o que ele via quando fixava seu olhar em seus próprios tornozelos, mas o que há de se concordar é que deveria ver algo interessante, já que ele não parava de olhar para seus tornozelos.

não era exatamente aos tornozelos que ele fitava. o ângulo de seus tornozelos em relação ao chão e aos seus pés é o que lhe chamava atenção. as sombras formadas pelos raios luminosos que emanavam dos lugares, o espectro bruxelante da forma de seus tornozelos conforme a luminosidade se alterava em sua fonte o cativavam de tal forma que não conseguia parar de contemplar seus próprios pés.

no começo não era nada de tão anormal assim, um dia, meio sem intenção, se pegou olhando para o espaço entre seus pés. foi a forma que ele mais conseguiu abstrair-se de sí próprio - mais ainda que desacordado. aos poucos, foi testando novas estruturas. comprou sapatos diferentes, meias estranhas com penduricalhos e alguns pares de tênis. tudo para testar os ângulos e a incidência de luz. procurava a combinação perfeita.

todos que o conheciam estranhavam tamanha exoticidade que, da noite para o dia, passava a apresentar. alguns deram cartões de psicólogos afirmando que os donos dos cartões eram os melhores do brasil, outros achavam que era uma fase. mas ninguém realmente nunca conseguiu entender por que ele desprendia tanto de sua atenção e tanto de seu tempo olhando para os próprios tornozelos.

sua admiração pelos ângulos e formas o captou de tal forma que ele passou a olhar sempre para baixo. em todos os momentos, passou a olhar sempre para baixo. as sombras o mantinham em alerta. em seu quarto, ajustou o abajour de forma que conseguisse ver nitidamente a sombra projetada. usou seu abajour assim por semanas. só parou quando acendeu uma vela e deixou uma fresta da janela aberta para que houvesse um sopro de vento brincando com a chama para que assim houvesse harmonia entre luz, sombras e ângulos. e assim adormecia.

em seus sonhos havia muitas versões de pés, tornozelos, sombras e luzes. como se estivesse numa sala de espelhos e todos eles fossem versões diferentes dos mesmos pés. uma sala sombria, escura com luz bruxelante desritimada. em todos os sonhos, tentava sair dessa sala sombria mas nunca conseguia. acordava suado e com os batimentos cardíacos acelerados.
ficou compulsivo. compulsivo como um viciado. compulsivo como uma idosa é por cortinas florais. compulsivo ao ponto em que sentia asco de si mesmo. mas o fato é que nem ele jamais entendeu a razão de olhar fixamente para seus tornozelos e achou que era muito idiota por isso.

até que um dia, ele passou os olhos por seus joelhos e jamais olhou para seus tornozelos de novo. pensou que os tornozelos eram totalmente sem graça e abstratos demais para seu raciocínio limitado. mas os joelhos, esses sim eram jóias raras!

28.11.08

oi

a globo tirou meu acesso do meu antigo blog.
maldita. filhadaputa. que morra o responsável.



começamos um blog novo, vejamos o tanto que eu consigo produzir agáteemeélicamente aqui.