28.7.09

a entrevista

parte um


a sala estava preparada: duas poltronas; uma mais alta e trabalhada que a outra; uma mesinha entalhada de carvalho no centro; a luz era um tanto escassa, vindo somente de velas ladeando as paredes, o que dava à sala um toque de obscuridade esperado de tal ambiente; nas paredes havia quadros dos maiores nomes da pintura, incluindo o retrato de dorian gray original, antes de ser totalmente deformado; um grande e trabalhado tapete persa por baixo de todas as coisas dava um toque real à decoração da sala, duas taças jaziam sobre a mesa à espera de pessoas.

um homem foi levado para dentro da sala. um pouco assustado pelo lugar em que estava, mas se sentou, postou no colo a mala que carregava, a abriu e dela retirou um gravador de voz - que foi colocado por sobre a mesa de carvalho - e um bloco de anotações - que ficou em suas mãos -, a mala foi colocada ao lado da poltrona e ele ficou esperando. o mesmo ser um tanto estranho que o tinha levado para a sala o serviu com sua bebida favorita. estava tudo pronto. foi pedido que ele aguardasse, a entrevista se iniciaria em alguns minutos.

um súdito foi avisar ao mais superior dos habitantes daquela dimensão que o repórter havia chegado. ele agradeceu ao súdito e continuou cortando as unhas do pé. "é bom que ele pense que eu estou ocupado", pensou, afinal ele era o ser mais temido daquela e de outras dimensões, deveria fazer jus à imagem alheia sobre ele. terminou de cortar as unhas, as olhou por alguns segundos e exclamou: "nem deus teria feito melhor!". colocou os sapatos e foi para frente do espelho montar a imagem que deveria ter aos olhos dos povos aos quais o repórter representava. enquanto colocava os adornos pensou: "ah, isso me cansa. por que eles têm que ser tão míticos e fazer imagens do que eu tenho que me parecer?". ao terminar a produção deu uma última olhada em direção ao espelho para ver se não havia esquecido de qualquer detalhe, esquecer algo seria imperdoável para alguém em sua posição. checou os minutos, "meia hora era um bom tempo de chá de cadeira." ele pensou, suspirou fundo e saiu de seu aposento.

antes de entrar na sala preparada para a entrevista ajustou impacientemente os controles para os efeitos de fogo e som, esses detalhes o estavam irritando mais do que o habitual, era evidente para ele que já estava cansando daquela vida. ao terminar de configurar a intensidade de luz e música olhou em volta. um súdito o fitava com ar de compaixão e admiração. ao notar o olhar do rapaz retomou sua altivez digna de ser o maior e melhor daquele castelo. checou novamente os controles, estava tudo pronto. colocou-se ante à porta, sua postura chegara ao máximo de altivez e respeito que era possível, a mesma altivez que o colocou na posição hierárquica que ocupava. pôs a mão na maçaneta e abriu a porta.

logo que a grande porta ricamente trabalhada e envernizada se distanciou do batente houve um show de luzes; a chama das velas ficaram mais fortes, bruxelavam graciosamente e emanavam luz jamais imaginável ser provinda de velas e não holofotes vermelhos e amarelos; violinos e violoncelos começaram a tocar numa virtuosa composição clássica e grave, que nunca fora ouvida fora daquela sala, como se aquela área tivesse sido composta somente para aquela ocasião.

o repórter se encolheu na poltrona ao ver o tamanho do ser que adentrara a sala. era muito alto, forte, com postura imponente como a de um rei, vestido com um manto de veludo vermelho com detalhes pretos e prateados que seria digno de um papa e trajava, também, calças que não eram muito chamativas. mas o aspecto amedrontador não vinha das roupas que usava, vinha de sua postura intimidadora como a de alguém que com um aceno simples de uma das mãos é capaz de condenar alguém à morte.

o repórter fez menção em se levantar quando ele se aproximou da poltorna em que estava sentado, mas ele simplesmente olhou para o repórter com um olhar de piedade e se sentou em sua poltrona. no mesmo instante, um vassalo lhe serviu alguma bebida viscosa em sua taça. bebeu um gole, com um aceno fez a luz voltar ao normal e a música ficar num volume agradável até mesmo para uma conversa entre reis. ele olhou novamente para o repórter, dessa vez com um pouco menos de piedade, e disse:

"estou aqui, a entrevista pode começar."



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continua em: a entrevista parte II

22.7.09

f5

aí que tem conto novo chegando. estou de férias mas estou mais cansada do que quando eu trabalho. só pra não dizer que eu parei de escrever de novo.

fora isso está tudo na mais perfeita normalidade e tudo correndo bem.

em alguns dias conto novo no ar.

17.7.09

ode à espécie

existe uma espécie de ser vivo que me causa espanto, repulsa e admiração ao mesmo tempo. se acham os donos de toda e qualquer razão existente e toda e qualquer coisa existente. sentem-se superiores, ah, como se sentem! são podres, todos eles, sem nenhuma excessão. mas mesmo com todos esses defeitos são capazes de fazer cada coisa incrível que deixaria o mais superior ser existente impressionado. não deve ser novidade para o caríssimo leitor o ser que está sendo exposto, o ser humano. tiop o cêrumãno galerë1

pessoas, seres humanos, homo sapiens sapiens (insira aqui qualquer piada com temática gay)... todos nomes para você, sua mãe, seu pai, para essa que te escreve e, até mesmo - acredite -, para o torcedor fanático do time de futebol rival ao seu. nós, pessoas, nos julgamos superiores a tudo e todos (exceto, talvez, o deus que foi criado por nós, aquele que ainda dizem que fomos criados à sua imagem e perfeição, mas não entremos em questões teológicas, sim?). a crença de superioridade exala pelos poros de cada humano que esteja vivo de tão exacerbada que é, mas há de se dizer que essa crença não é tão infundada assim: como darwin diria, os mais fortes sobrevivem e os mais fracos sucumbem ou são subjulgados. pois bem, nossos ancestrais neandertais começaram o trabalho de dominação das outras espécies vivas para que nós pudéssemos exibir livremente nosso ar de superioridade sem medo de qualquer represália - e assim o fazemos.

nos achamos superiores mas somos mais podres que alguns dos ditos inferiores, mas como essa temática para escrita já foi debatida, escrita, falada por tantas vezes e por tantas pessoas diferentes, não será adotada mais uma vez nesse amontoado de linhas. não, falemos sobre a grandiosidade! a virtuosidade! a beleza!

ao dado momento da evolução humana, século XXI, depois de alguns milênios de sociedade pode até ser dito que estamos um tanto evoluídos mesmo, apesar de não parecer. como já mencionado a espécie homo sapiens sapiens é intrinsecamente podre, então não há como se esperar que a evolução atinja a todos homogeneamente. opondo-se a este fato, as pessoas estão cada vez mais lindas, cuidadosas umas com as outras, íntegras, gentis e mais algumas qualidades. a cada dia que passa noto mais beleza nas gerações mais jovens, mais pessoas se importando umas com as outras. a virtuosidade por esses dias está aumentando gradativamente, o que pode ser levado a considerar que a tendência é melhorar cada vez mais, já que a virtude é uma das mais belas características maniqueístas humanas. somos belos, admitamos.

sim, somos belos, somos grandes e somos especiais. não encontro palavras para expressar tamanha beleza que as pessoas podem conter dentro de si. somos capazes de adorar um semelhante a ponto de nos expormos aos nossos maiores medos para que possamos fazê-lo feliz. somos capazes de fazer com que a necessidade de um semelhante seja maior que a nossa própria e maior que nosso egoísmo para que possamos ajudá-lo de forma eficaz. somos até capazes de fazer o que é julgado impossível por adorar um semelhante ou a nós mesmos. pode ser ousado o que está escrito aqui, mas somos o veículo de algo superior e belo, como se fôssemos uma catapulta para elevar algo a um nível superior.

ah, pessoas! como há beleza em vocês! querido leitor, abra seus olhos para as coisas bonitas que você faz, não há necessidade de ser algo grande nem tampouco digno de adoração: o simples ato de pagar um lanche para um amigo ou agradar alguém quando você poderia estar se beneficiando de qualquer outra coisa que pudesse lhe dar mais prazer já são atos lindos que só nós conseguiríamos fazer, sem demérito qualquer. salvar o mundo, erradicar a fome, fazer milagres são coisas tão virtuosos que poucos tem o privilégio de fazê-las, então trabalhemos com as ferramentas que nos foram dadas. todos nós temos essas ferramentas, as usemos de forma apropriada. por menor que o efeito possa parecer ser para você pessoalmente, ponha-nas em uso, o efeito será sempre bom e válido. demonstre afeto perante aos outros, faça coisas para que as outras pessoas se sintam bem e você estará colocando toda beleza e virtuosidade que você tem dentro de você no mundo, fazendo assim, que ele seja um lugar cada vez melhor e agradável de se estar.

agora, caro leitor, se você está descrente quanto aos parágrafos acima, se você acha que não há salvação - ou qualquer dos bordões aplicados nessas situações - e acha que essa que lhe escreve é mais uma humanista sonhadora, sugiro-lhe e encorajo-lhe calorosamente que repense seu círculo de convívio ou que comece a acender a centelha que cada um de nós tem dentro de si por meio de atos concretos. mas não por meio de palavras, se o fizer com palavras e não ações só vai parecer mais um daqueles demagogos que muito falam e nada fazem. se não acreditar no que está escrito aqui, apenas tente, pelo menos uma única vez, seja grande, seja belo, demonstre a beleza que existe em você, mostre sua grandeza para o mundo! alguns garantem que não dói nem um pouco e que dá imenso prazer em fazê-lo.
oi, tô motivacional hoje. beijos.

13.7.09

f5

já tenho idéias, mas me falta tempo. fim de semestre é uma pica grossa e com veias saltadas. espero, em breve, atualizar isso com coisas decentes.

2.7.09

15/05/07

tá, eu sei que eu fico muito tempo sem escrever, mas se eu não for viver a minha vida não vou ter o que escrever aqui, certo?

nesses dias que passaram o joão ficou me ligando sem parar. menino chato. dei um jeito nele, mas conto depois.

a elisa virou minha melhor amiga na escola, fazemos todos os trabalhos juntas, ela me ajuda nas aulas e tudo mais. ela é tão inteligente! ela tá me contando a vida inteira dela. os pais são divorciados, ela mora com o pai. ela me disse que nunca se interessou por meninos e nem sabe por quê. ela já namorou com uma menina que ela conheceu na internet. não durou muito, a menina só queria saber como era e chutou a amanda. aí ela tá sem namorar até hoje, faz quase um ano isso. ela tá sabendo da minha vida toda também. ela apelidou minha mãe de surtada e meu pai de bobão permissivo. ela diz que se meu pai fosse um homem com colhões minha mãe não seria o que ela é.

por falar na minha mãe, os remédios dela estão fazendo efeito. ainda bem, aquela mulher é louca e deveria ser internada. mas ninguém me ouve nessa casa. meu pai contratou uma empregada, já que o médico da minha mãe falou que ela precisaria se distrair a maior parte do tempo e agora tá pintando. a empregada é legal, a fabíola. ela cozinha bem, que bom, porque viver de lasanha congelada tava mexendo com meu humor.

meu pai é uma pessoa legal, ele não surta igual a minha mãe, quando tem que me dar bronca e tal, ele conversa comigo, não chega gritando como um louco. to gostando do meu pai sendo pai, só não sei até quando ele aguenta isso. ele gostou da elisa, ela tem vindo pra cá quase todos os dias, já que o pai dela trabalha o dia inteiro e a fabíola cozinha bem. estamos aprendendo a cozinhar com a fabíola. =)

voltando ao joão, um dia que ele me ligou de novo, depois que eu pedi pra ele não ligar, a elisa estava aqui. ela atendeu o telefone e falou que eu estava namorando com ela, e que era pra ele parar de me ligar porque senão ela faria um exército de lésbicas e iria até a casa dele bater nele. quando ela desligou o telefone a gente riu alucinadamente. foi bem divertido. depois desse dia ele não ligou mais.

a elisa estuda comigo à tarde, isso quer dizer que provavelmente minhas notas vão melhorar. meu pai vai ficar mais feliz e mais permissivo ainda, isso vai ser bom, porque daí eu vou poder fazer quase qualquer coisa. minha mãe tem ficado na dela pintando os quadros doidos dela, eu sempre falo que estão bonitos mesmo que estejam feios como o rascunho do mapa do inferno. deve fazer bem pra ela, ela é louca e surtada mas é minha mãe e eu a amo.

vou parar por aqui, cansei de escrever.

um nanoconto qualquer

nasceu em um lugar qualquer.
__cresceu de um jeito qualquer.
________viveu uma vida qualquer.
______morreu de um jeito qualquer.
_não teve na vida realização qualquer.

1.7.09

a relação entre escrever e cagar

escrever é como vomitar ou fazer cocô, algo bem orgânico mesmo. quanto mais você tenta, mais aflição dá e menos sai. aí você se estressa e começa a ficar puto porque você não conseguiu escrever e você está precisando escrever. e você tenta de todas as formas, deita na cama, senta, fica em pé, liga música, desliga a música, liga a tv, desliga a tv, vai até a cozinha ver se acha inspiração no armário das porcarias ou na geladeira, volta para o lugar de escrever tão abastecido quanto alguém num abrigo anti-radiação no seu primeiro dia de utilização, senta, coloca as mãos para trabalhar e... nada.

quando consegue um parágrafo aceitável, pára no meio da escrita para não cagar uma idéia que pode originar algo bom. aí vem a culpa por não estar conseguindo produzir da forma que gostaria de estar fazendo, logo depois da culpa vem o desespero. o desespero é a forma mais sacana de se sentir quando não consegue escrever algo. o escritor começa a pensar que perdeu o jeito da escrita, se cobra pela quantidade de tempo que está sem escrever nada decente, começa um monte de coisas e não termina nenhuma porque acha que está tudo muito ruim (o que realmente está). vira uma necessidade praticamente física escrever algo digno de ser lido por alguém que não seja sua própria mãe, só para que consiga provar pra si mesmo que ainda é capaz. é desesperador.

depois do desespero vem a raiva. dá uma vontade cabulosa de quebrar o monitor, o teclado, rasgar o papel, quebrar a caneta em pedacinhos... mas um escritor não faz isso, um escritor zela pelo seu instrumento de contato intelectual com o mundo, quebra tudo em volta, menos a caneta e o papel (ou o monitor e o teclado.)

tem também os momentos de nada. você se distrai com um coceira no joelho e esquece sobre o que estava escrevendo, qual era sua intenção com a frase não terminada e fica puto lendo e relendo tudo que já escreveu só pra ver se consegue voltar à mesma linha de pensamento. e não, não consegue. porque quando se precisa escrever e as idéias não vem é exatamente como ter muita vontade de cagar e não conseguir. é aniquilador. daí você não consegue mais ficar sentado na privada, ou tem algum compromisso e tem que deixar pra depois. passa o dia inteiro com uma vontade imensa de cagar. isso aplicado à necessidade de escrever e não conseguir é um pouco mais sutil, mas o efeito de alguns dias tentando dá exatamente a mesma sensação. deseperador.

aí, quando o escritor vê que não vai sair nada mesmo, ele tenta deixar de lado, sabe aquela coisa de "se eu não penso sobre algo, essa coisa automaticamente deixa de existir"? é, funciona por alguns dias, mas não passam de dois ou três. aí você começa a reparar o quanto você produzia bem no passado e começa a reler o monte de coisas legais que já escreveu. auto-tortura. também é uma fase para se tentar superar a falta de inspiração, trava, hiato ou seja lá o nome que se dá pra isso.

o problema é que quanto mais se cobra, menos inspiração vem. aí você se fode redondamente. o jeito que eu achei pra superar isso descobri na quinta série e está sendo aplicado à esse amontoado de linhas neste exato momento. como fui bem-sucedida na primeira vez, estou apelando de novo. sim, apelando mesmo, porque eu estou realmente MUITO incomodada com o fato de eu ter uma crônica e dois contos meio começados e não estar conseguindo escrever nada decente.

fui bem-sucedida quando estava na quinta série tinha um professor de português chamado geraldo. ele era um professor dos mais rígidos e incríveis que eu já tive, me lembro claramente de aprender a palavra "contemplar" e toda a imensidão que ela trás por ele, lembro também de vê-lo num monólogo sobre suicídio e a opinião dele sobre tal fato, depois de uma semana o vi na missa de igreja católica que fui obrigada a ir pela minha família - porque era missa de sétimo dia da morte de uma tia minha que não fez diferença alguma na minha vida e que passei a achar muito chata depois de ser forçada a ir na missa da morte dela (já não bastava morrer no dia do meu aniversário e estragar a festa, ainda fui obrigada a ir à igreja, lugar este que me sinto realmente mal) - e a opinião dele sobre suicídio foi lindamente ofuscada pela crença dele na igreja católica. geraldo, uma vez, mandou que escrevêssemos uma redação com tema livre, como ele era rígido, não poderia entregar a tal redação depois da data estipulada. travei, sempre odiei tema livre. escrevi minha redação sobre como era difícil escrever com tema livre porque a palavra livre aplicada juntamente com a palavra tema dava inúmeras opções de escolha e isso acarretava em deixar algum tema bom de fora e todas essas coisas que alguém escreve quando trava. ele gostou da redação, pediu que eu lêsse para os coleguinhas e tirei a nota máxima. eu saí por cima de uma situação que me deu tanto desespero quanto a que estou agora. estou apelando mesmo, porque para eu lembrar de uma situação da minha infância/pré-adolescência como meio de superar algum problema de agora é realmente apelativo e sinal de desespero (visto que minha memória é algo praticamente inexistente).

só espero que me saia tão bem dessa vez quanto me saí quando tinha dez anos.