27.7.10

16/03/08

hoje tive um dia horrível. não foi só hoje, foi hoje e ontem, mas para mim é só hoje porque ainda não dormi e se eu não dormi o dia não mudou. tudo bem, teve uma parte super legal, mas o saldo do dia é negativo. vou contar tudo do começo, porque, aff, foi ridículo. absolutamente ridículo, ridículo demais, mais ridículo que tropeçar e cair de cara no chão na frente da sala de aula.

domingo fiquei na casa da elisa a manhã e a tarde todas. em vez de ligar para o meu pai ou pedir carona para a mãe da elisa eu fui sozinha, de ônibus. queria pensar um tempo e seria útil o tempo no ônibus. aí cheguei em casa, abri a porta e me deparo com meu pai só de cueca no meio da sala. eu olhei para ele, ele olhou para mim e paralisou. ficou lá, com aquela cara de bobão, otário, cretino, filho da puta, infiel de merda que foi pego na mentira. se ele não tivesse feito a cara de "oops, fui pego!" eu teria ignorado o fato e ido para o meu quarto, sabe, ele estava sozinho em casa, nem esperava que eu chegasse, ele tinha direito de andar de cueca pela casa vazia. mas nããããão, para que saber mentir? tem que mostrar com o rosto que estava fazendo algo de errado e foi pego!

aí eu fiquei com raiva saí correndo pela casa pensando que ele já tinha arrumado uma puta ou algo assim. e se fosse uma puta eu nem teria ficado tão possessa, mas, não, nem para isso o idiota serve. quando eu abro a porta do quarto dele, está lá a clarice pelada na cama fumando um cigarro com cara de quem tinha feito algo muito prazeroso. comecei a gritar feito louca que ele era um estúpido, que mal tinha enterrado a mulher e já estava com outra na cama, que ele nem tinha esperado a cama esfriar pra colocar outra mulher dentro de casa, que já ia formar família de novo, que ele era um irresponsável, que se ele quisesse comer as putas dele que fizesse num motel, porque ele não respeitou nossa família nem a mamãe e mais um monte de coisas loucas que devem ter feito todo sentido na hora que eu gritei. até que chegou uma hora que eu cansei de gritar, entrei no meu quarto, peguei algumas coisas aleatórias e saí de casa.

quando eu já estava meio longe mandei uma mensagem pra elisa dizendo que não ia ficar em casa e depois eu explicaria. eu nem sabia para onde eu ia ou o que eu ia fazer, só sabia que eu estava muito puta com meu pai e não queria ver a cara dele por algum tempo. fiquei andando sem rumo pela cidade, até que eu cansei de andar, parei numa praça, sentei num banco e comecei a chorar. chorei tanto, mas tanto, mas tanto que se eu visse de fora até eu ficaria com dó de mim. eu nem sei porque eu estava chorando ou por que eu fiquei muito brava com meu pai. foi a pior meia hora da minha vida. eu poderia ter corrido pra elisa, ela faria tudo ficar melhor, mas eu não queria, queria ficar sozinha.

quando eu parei de me debulhar em lágrimas um pouco uma galera se aproximou de mim. três meninos, duas meninas, tinham duas garrafas de vinho, uma pela metade. acho que eles viram que eu estava mal e quiseram fazer algo, sei lá. começaram a conversar comigo, me deram vinho, cigarro, tudo que eles tinham. que bom que ninguém estava com droga, senão eu iria experimentar. aí eu fiquei bêbada, também, nunca tinha bebido de verdade. nós conversamos sobre um monte de coisas, foi divertido. até rolei no chão! nós ficamos na praça até alguma hora que eu não sei e depois fomos para um lugar mais escondido porque não queria que meu pai me achasse, se ele estivesse procurando. ficamos juntos até de amanhecer, depois foi cada um para a respectiva casa. fui a pé para minha, passei em uma padaria, comprei um refrigerante e fui bebendo no caminho. quando eu cheguei em casa não tinha ninguém.

a elisa me ligou de madrugada para saber o que tinha acontecido, atendi, contei por cima e disse que estava tudo bem, que tinha feito amigos. ela me pediu para voltar para casa e conversar melhor com ela, mas eu falei que nem ia porque era perigoso e tal. nem era perigoso, eu só não queria voltar e encarar meu pai. não quero olhar na cara dele. aí, ela me pediu para avisar quando eu chegasse. quando eu cheguei e não vi pai nenhum e nada de amante, liguei para elisa, disse que estava tudo bem, que eu estava em casa e que ia dormir. aí estou aqui escrevendo porque eu não consegui dormir e eu não sei o que fazer.

meu pai ainda não voltou, mas por precaução já tranquei a porta. eu não quero vê-lo, não quero conversar com ele, não quero qualquer coisa vinda dele. aff, não acredito que metade dos meus genes são de um fornicador compulsivo e a outra metade de uma mulher mal amada que descontava toda decepção na filha dela. eu não quero esse tipo de coisa para mim, não quero ser assim, eu não quero um pai que não respeita a memória da esposa morta e já traz putas para comer em casa e economizar a grana do motel. aposto que ele já estava com a clarice antes da mamãe morrer. e a clarice, aquela vagabunda, fingiu que era legal, fingiu que era só amiga do meu pai, fingiu tudo! aff... se eu a visse agora ia falar muito pra ela!

eu não quero ver meu pai! não quero ter que olhar na cara dele! vai ser horrível quando ele chegar, eu sei que eu não posso me esconder no meu quarto, nem fugir de casa para sempre, nem ser refugiada na casa da elisa porque acho que os pais dela não ajudariam nem um pouco nessa situação. odeio a vida! odeio meu pai! saco, vou tentar dormir e nem fodendo eu vou para escola amanhã. talvez eu vá, mas só para ver a elisa, eu preciso dela. mais tarde eu ligo para ela de novo pra explicar o que aconteceu.

odeio minha vida.

13.7.10

f5 - neurotransmissores fuderosos of doom

o sentimento de liberdade momentânea se aproxima por um momento: em teoria acabaram-se as lições de casa. agora só faltam alguns boletins, separar por aluno e ordem numérica, grampear e uma única reunião. daí o período aproximado de extensas duas semanas de puro ócio e divertimento a valer. eu deveria estar dormindo para fazer isso um pouco descançada para amanhã mas a excitação por duas semanas sem lição é tão grande que me faz não ter sono. lição de casa de aluno sempre tira o sono, ou é porque você tem que corrigir duzentas em quatro horas ou é porque elas acabaram e você vai poder assistir toda a porcaria que você baixou no hd, ir para o botecão prometido que tá quase virando a volta de jesus - já que não dá tempo porque fim de semestre é um cu, e escrever, ler, escrever e ler e escrever.

semestre longo. no meio dele já queria que a ciência provasse que lição de casa tem combustão espontânea e que aconteceu vanguardamente com as minhas, mas os cientistas ficam mais preocupados com coisas pífias, tipo o genoma ou a cura da aids, do câncer ou da lenda urbana da gripe do porquinho.

aleatoriedades:
adoro ver os ossos da minha mão. adoro bater algum osso e sentir dor de gente magra. adoro quando marca a mandíbula ou quando os tendões do pescoço ficam salientes. adoro quando meu aminguinguinho praguejento sai comigo. vou adorar muito quando meus fones novos chegarem. adoro violinos ao fundo das músicas. adoro microfonia no começo de músicas. adoro guitarras distorcidas. adoro voz rouca. adoro o som do ride quando ele é sequinho mas mesmo assim dá pra ouvir os harmônicos no meio da música. adoro café sem açúcar. adoro mostarda. adoro pimenta. adoro vodka pura.

adoro cigarros. aliás, se pá eu tô fumando demais de novo. ou não, se for ver, meus dias tem durado por volta de 30/36 horas. isso porque eu me forço a dormir, senão durariam mais. meus planos são de virar um zumbi em poucos anos. ficaria mais tempo acordada, se minhas costas permitirem. tô até gostando da minha dor nas costas absurda no momento, virei amiga dela.

às vezes é um saco ser eu e tal. mas na maior parte do tempo eu lucro bastante com isso, então, no complaints. queria acordar um dia, um diazinho só, no corpo de outra pessoa só pra saber como funciona a cabeça de alguém que não eu. acho que eu poderia aprender bastante sobre diversos temas, seria interessante. acho que vou estudar um pouco de sociologia durante as "férias", se pá tá faltando conhecimento um pouco menos básico na área. que a força esteja com lord google por seus serviços formidáveis à sociedade.

dica aos amiguinhos fumantes: quando seu cinzeiro começa a queimar sozinho é hora de limpá-lo. cheiro de bituca incinerada não é dos melhores.

é incrível o que um pouco de serotonina e endorfina brincando de roda com nicotina, cafeina (e mais algumas aminas) e um pouco de sono não fazem com uma pessoa. privação de sono é a nova droga, galerë, experimente, super dica. te deixa doidão, não gasta nada, você viaja sobre hare-krishnas, muito laranja e ex-namoradas de amigas suas. mas não é só isso, quando você atinge o patamar invejável de 48 horas sem dormir você fica com bonus-combo-cheat-special e supera qualquer droga ilícita que eu já tive o desprazer de experienciar os efeitos. quando quiser parar de brincar disso, é só assistir a um documentário em streaming no google videos em que a voz do narrador se mantém constante e tem um fundinho de música clássica pra dar o elã. zeitgeist addenum funciona perfeitamente comigo, às vezes algum da bbc, mas só às vezes, porque bbc é pra galere geral e não é trüe-mothafucka-roots como os independentes. o único problema é você derrubar o computador ou dormir com a cara no teclado e acordar com o padrão qwerty estampado em alguma das suas têmporas. funciona melhor que diazepam, o valium das terras tupiniquins. mas se você é uma pessoa chata e normal que não gosta de ver até onde você é capaz de chegar e dorme oito horas por dia, todos os dias tudo isso que foi escrito nas últimas linhas é totalmente inútil.

sexo gay, sexo lésbico, peitos, bunda, conto erótico, cu, ffuking ffantastic, two girls one cup, hardcore, bondage, submission, swallow cock, creampie, ass to mouth.

perdão as palavras, é só pra rir de quem for cair aqui depois por causa dessas palavras. webdevelopers, cheating on google since the begining of the malandropscity.

peguei e cansei. se pá vou dormir. provavelmente não, mas, né?

se pá em breve tem conto novo. amanda nova também vai vir por esses dias.

may the force be with you!

7.7.10

mais um!

REGINA, PUTA QUE PARIU!

5.7.10

o bolo

era aniversário de casamento de seus pais, dia catorze de outubro, cinquenta anos de união feliz, estável, respeitosa. ela não sabia, mas eles faziam sexo até a presente data, sua mãe nunca olhou para qualquer homem e seu pai jamais quebrou os votos que fez no dia em que disseram sim na frente de um homem todo vestido de preto.

ela era cheff de doces de um dos melhores restaurantes, sendo condecorada com prêmios algumas vezes durante sua rápida carreira. diziam que seus doces eram enviados por deus, jeová, maomé, mao tsé-tung, fidel castro porque eram quase tão bons quanto os doces que o senhor josé do boteco fazia. ninguém dizia que os ovos em conserva dele eram infinitamente mais saborosos e coloridos que os doces, mas o senhor josé também não gostava deste tipo de publicidade.

logicamente ela foi encarregada de fazer todos os doces da festa, uma vez que o senhor josé fora um desafeto na família desde que ele deu em cima de sua mãe por três anos consecutivos, outra vez porque ele cobraria preços exorbitantes que ninguém estaria disposto a pagar. todos acharam melhor manter as coisas em família, daria um ar de intimidade aconchegante para a festa de quinhentas pessoas que viriam - das quais trezentas e setenta e nove eram totalmente desconhecidas mas tinham status.

ela formou uma equipe com os melhores designers de doces, cozinheiros, avós e tias que ela conhecia. colocou-os todos em sua cozinha, delegou funções, formou equipes, estabeleceu prazos, metas e aplicou com maestria o conceito de linha de produção que mudou a história da humanidade. todos trabalharam com imensa sintonia e sincronismo que deixariam um relógio suíço com vergonha do trabalho mal feito e relaxado que sempre fez. o bolo seria dela, feito com destreza e alguns ingredientes secretos que ela mesma inventara. queria que o bolo fosse perfeito, digno de troféus, menções honrosas, fotos e análises para revistas especializadas, tanto por seu gosto único, sua textura firme que derretia ao menor contato com a saliva e sua decoração de extremo bom gosto e sofisticação.

todos trabalharam perfeitamente bem, as avós e as tias brigaram um pouco por divergências de métodos, umas diziam que o certo era mexer o creme em círculos no sentido horário outras diziam que o certo era desenhar um oito mexendo. a discussão só acabou quando um cheff passou pelas panelas que elas tomavam conta e ficou embasbacado com o jeito que elas usavam para mexer e disse que todas estavam fazendo muito errado e o jeito certo era desenhando de baixo para cima castelos com oito torres no sentido anti-horário em lugares que o clima era temperado e as coordenadas geográficas eram 453.78, -324.23. elas pararam de discutir e continuaram mexendo exatamente do jeito que sempre mexeram porque nunca prestaram atenção às aulas de geografia da escola.

quando a cozinha estava vazia e todos os doces já estavam sendo levados para o lugar que ficariam esperando a hora de serem comidos no dia seguinte ela começou a fazer sua arte. um bolo de seis camadas e meia, recheado de frutas silvestres e creme real, coberto com pasta americana multicolorida e decorado com fios dourados de marzipã. receita própria, com alguns ingredientes exóticos como noz moscada, molho de pimenta e glutamato monossódico. já tinha separado todos os ingredientes e tinha começado o trabalho duro de bater a massa para que ficasse homogênea e aerada. o forno já estava na temperatura ideal na hora que a massa estava pronta e ela a despejou em quatro formas diferentes e colocou-as ao forno. ajustou o timer e começou a preparar o recheio e a cobertura. tudo correu terrivelmente bem até a hora que ela sentiu o cheiro da noz moscada e lembrou-se da massa no forno. logicamente o timer não disparou, mas por que um timer faria seu trabalho se eles se divertem muito mais quando não avisam do tempo e as pessoas xingam muito?

tirou as massas do forno e por sorte, muita sorte mesmo, não estavam queimadas. em contrapartida, estavam totalmente desiguais, de um jeito que não daria para consertar, e ela não teria tempo para refaze-las. enquanto se preocupava com as massas, esqueceu o creme no fogo ligado e ele foi incinerado. labaredas chamuscaram a coifa e o teto. ela foi obrigada a usar um extintor que ela se orgulhou de nunca ter utilizado por cinco anos. obviamente, depois de tanto tempo parado ele não funcionou como devia e não apagaria nem uma única velinha de aniversário das mais baratas. ela, então, tirou sua doma e começou a batê-la freneticamente no foco do fogo do jeito que se faz em filmes, depois de uns cinco minutos batendo e metade da doma queimada ela se lembrou que se desligasse o gás tudo ficaria mais fácil. saldo final: uma doma metade queimada, um creme real destruído e ela teria que improvisar qualquer coisa com leite condensado, as frutas, amido de milho, leite e açúcar. naquela hora ela suspirou e pensou que nada mais poderia dar errado, ledo engano. decidiu que faria um creme com todas aquelas frutas exóticas batidas com os ingredientes que ela dispunha, mas na hora que ligou a centrífuga houve uma explosão de baixo porte mas que foi suficientemente grande para que queimasse o pobre aparato. quando estava prestes a começar a chorar inconsolavelmente como uma criança que perdeu o brinquedo favorito lembrou-se que tinha uma bancada, um rolo de macarrão e muito papel filme. embalou a bancada inteira em papel filme, colocou as frutas sobre o papel e as triturou com o rolo de macarrão com tamanha raiva e angústia que faria a finada centrífuga achar seu trabalho inadequadamente insatisfatório. enquanto fazia a pasta americana nada deu errado e ela estranhou efusivamente o acontecido.

por fim conseguiu fazer com que todas as etapas do bolo estivessem prontas e agora ela teria que ser malabarista para conseguir montar o bolo de seis camadas e meia com massas totalmente desniveladas, com um creme meio mole servindo de cimento e uma cobertura que não ajudava em nada para a estabilidade total da obra da engenharia que desafiaria a física moderna e tradicional se conseguisse manter-se empilhada por mais de dez minutos. tentou de muitos jeitos diferentes e o melhor resultado que conseguiu foi algo muito similar à torre de pisa. decidiu disfarçar a inclinação de quinze graus com um arranjo de flores bem volumoso e colorido, que ela compraria no dia seguinte a caminho da festa. quando ela estava limpando a cozinha e tentou mover o bolo para outro lugar e limpar a área que ele estava e suas camadas escorregaram entusiasticamente como num concurso de luta no gel. depois de alguns segundos ponderando chegou a impressionante ideia de colocá-lo na geladeira na esperança que o frio o enrijeceria e o tornaria mais apto ao transporte da cidade grande à chácara na qual a festa seria realizada. decidiu dormir na cozinha para não se atrasar no trajeto entre sua casa, pegar o bolo e ir para a comemoração.

acordou no dia seguinte duas horas atrasada, não pensou que o timer funcionaria, então programou o celular para despertar, mas não lhe veio à mente que a bateria iria acabar quando faltasse exatos dez minutos e trinta e três segundos antes da hora que tinha sido programado para tocar do jeito que aconteceu. mas, também, quem pensaria nisso? saiu correndo para pegar o vestido na lavanderia e, enquanto estava se trocando em um farol vermelho para ganhar tempo, um motorista bateu em sua traseira de um jeito que o carro só sairia do lugar se ele conseguisse milagrosamente uma cadeira de rodas - das elétricas. ela ligou para o seguro, disse o que houve, tomou um táxi e voltou à sua cozinha para pegar o bolo. pediu ao motorista que esperasse e disse onde iam, quando o motorista começou a chiar dizendo que não colocaria seu patrimônio na áera lamacenta e perigosa para aonde ia, ela mostrou o decote, deu uma piscadela e disse que o congratularia quando chegassem ao destino. o taxista, que era um estuprador em série, achou a ideia bem interessante e topou a corrida.

ela pediu ao taxista que fosse com muito cuidado e evitasse fazer movimentos muito bruscos para que o bolo não desmontasse inteiro dentro do carro. ele, que já estava planejando outros tipos de movimentos bruscos, concordou com o pedido e foi calmamente se dirigindo à chácara. mas em um farol vermelho, dois rapazes numa moto pararam do lado do motorista e um deles mostrou uma reluzente 45 cor de titânio e pediu educadamente pelo carro. ao entender a situação ela começou a chorar copiosamente como só quem tivesse vivenciado as mesmas coisas que ela desde o dia anterior faria. o taxista não entendeu. os assaltantes não entenderam. para falar a verdade, ninguém teria entendido o motivo de uma mulher com vestido de festa, sem maquiagem, com cara de sono e segurando um bolo torto no banco de trás de um táxi estaria chorando naquele momento. por mais incrível que possa parecer - e o que irá ser dito nas próximas linhas é realmente muito incrível -, os assaltantes notaram que aquele não era o tipo de choro desesperado ao qual estavam acostumados. ela ficou imóvel, atônita, chorando sem fazer barulho, com lágrimas rolando quentes por suas bochechas.

os assaltantes, comovidos com a mulher atônita, perguntaram o que tinha acontecido e ela começou a contar toda história, desde o sonho de ser cheff até o momento em que ela tentava desesperadamente chegar à uma chácara, no meio do nada, segurando um bolo que se mudasse de humor desmontaria inteiro e ela nem tinha dinheiro para comprar um bolo do senhor josé do boteco. os assaltantes se dispuseram a ajudá-la, um levaria o carro para onde os assaltantes levam os carros roubados e o outro iria com ela, de moto, até a chácara para a bodas de ouro de seus pais.

montou na moto de um jeito meio contorcionista para conseguir segurar o bolo de forma minimamente apropriada e partiram. como tudo estava dando absolutamente errado para ela, não haveria razão de mudar justo no momento que ela estava em um veículo de duas rodas, com um assaltante, segurando um bolo que implodiria a qualquer momento. um pouco antes de chegarem à chácara ouviram sirenes aproximando-se. conforme iam ficando mais perto, o assaltante se assustou, passou sobre um buraco relativamente grande para que a moto parasse abruptamente e ela saísse voando por sobre a moto. na queda ela quebrou um braço e outra coisa realmente muito incrível aconteceu - se você não achou realmente muito incrível na outra vez, deverá achar agora - o bolo permaneceu intacto, nem uma partícula de poeira grudou nele. o assaltante fugiu satisfeito sabendo que tinha feito a boa ação da vida dele e que teria uma vaga garantida no céu. felizmente, na hora do acidente, ela já estava bem perto da chácara e decidiu ir andando, contra todas suas expectativas nada de errado aconteceu no breve trajeto de cruzar a esquina do boteco do seu josé e colocar o bolo calmamente sobre a mesa.

enquanto seus pais corriam para ver o braço absolutamente torto da filha e já formava aquela comoção cheia de "ohhhs" e "ahhhs" ao seu redor, seu pai escorregou em uma pequena poça de champanhe que jazia largada, solitária, indefesa e entediada no chão e caiu de cara no bolo o destruindo completamente. para a poça aquela foi uma brincadeira divertida e ela teria gritado "de novo, de novo, de novo!" se qualquer pessoa tivesse paciência para aprender que padrão no qual as bolhas estouram é, na verdade, uma linguagem das mais sofisticadas faladas na galáxia. para o pai foi um dos momentos mais vexatórios da história de sua vida, só perdendo para o dia em que sua esposa pediu que tomasse a pílula azul. para ela foi como se tudo que houvesse de bom no mundo morresse no momento que o bolo fora destruído, sério, você jamais ficou tão triste quanto ela naquele momento. para o resto das pessoas só foi muito engraçado mesmo. pelo menos seu pai disse que o bolo estava muito saboroso.

2.7.10

férias

tô de férias daqui até eu cansar. e a vida vai bem, obrigada.
um beijo.