26.5.10

o triste fim do pote de nutella

"você é meu nutella, é a dose diária que eu preciso de endorfina para conseguir viver durante o dia." ela disse em desespero pressentindo que aquela seria sua última conversa. estava triste, estupefatamente triste. tinha sobrancelhas, cenho, olhar que denotavam o tremendo descontentamento que ela sentia durante a conversa.

"mas você tem que entender que eu enjoei de nutella. tenho preferido sorvete ultimamente." ele resolveu ser gentil na hora de dizer que não gostava mais dela e que já estava com outra. "eu posso ser seu sorvete. você sabe que eu posso!" estava visivelmente desesperada, seus olhos gritavam por piedade, ajuda, qualquer coisa que a pudesse lhe tirar daquela situação. a angústia crescente vindo de seu tronco à garganta gerava aquele tom de voz típico de desesperados, o tom exato de quem implora pela vida diante de seu carrasco.

eles estavam no carro dele, ao portão da casa dela. ele havia tentado por vezes, ao longo do jantar, terminar com aquilo logo - todas sem sucesso -, tentou de forma clara e direta, com alusões, metáforas, algumas outras figuras de linguagem, toda e qualquer forma que ele achou que não seria tão rude quanto desenhar. "mas você não sabe ser sorvete, querida. você fica toda dura no frio, um duro que a colher não entra para pegar a parte mais gostosa. e sorvete, bem, sorvete casa com praticamente tudo. dá para fazer panetone de sorvete no natal, dá pra fazer sorvete empanado, dá para colocar qualquer cobertura, doce, fruta, chocolate e até nutella!". nessa hora os olhos dela marejaram, ela parecia algum animal acuado, indefeso, só esperando a hora que o predador tiraria-lhe a vida. naquele momento ela inspirava pena. "nutella combina com sorvete, tenha os dois!" ela estava desesperada, tentando se segurar na única linha que ainda não havia rompido e que dava sinais claros de que não aguentaria por muito tempo. "mas é sorvete de kiwi, kiwi não fica bem com nutella...".

olhou para ele com ultraje. "mas você disse que nutella ficava bom com tudo! agora não combina com kiwi?! então coma os dois separados!!". ele estava começando a ficar assustado, não encontrava qualquer jeito de dizer àquela mulher que ele estava se divertindo mais com outra. "querida, eu enjoei de nutella, preciso ficar um tempo sem para ver se eu sinto falta...". chorosa disse "mas você nem sabe se gosta mesmo de sorvete... ainda mais um tão exótico como kiwi!", ele desviou o olhar para o velocímetro e não conseguiu disfarçar o semblante de culpa. ela decidiu, então, usar do último artifício que poderia ter, pisoteando em cima de seu amor próprio por conta do desespero "eu sei que eu não posso viver sem você, e eu sei que eu nunca vou conseguir. eu não sei falar nada mais forte que eu te amo e que eu sei que ninguém que te ame possa te amar mais que eu. eu só quero estar com você."

ele se sentiu extremamente desconfortável com a declaração e tentou explicar de mais alguns jeitos menos incisivos, mas ela estava irredutível. cansado, entediado, incomodado, resolveu dar o golpe final misericordioso: "escuta, eu vou casar semana que vem. e não vai ser com você! dá pra entender isso, ou quer que eu desenhe?". ela o olhou com admiração e repulsa. pegou sua bolsa, saiu do carro e atirou a primeira coisa que poderia quebrar a janela que achou contra o carro.

ele saiu cantando pneus e ela entrou em casa, achou no armário da cozinha um pote de nutella pela metade. procurando uma colher, abriu a gaveta com tanta raiva que a derrubou. ao perceber a situação que estava, olhou para o pote em suas mãos e o atirou com fúria e desespero contra a parede. "filho da puta, me tirou até a nutella!"

24.5.10

a outra entrevista - parte II

para ler a primeira parte clique aqui

- nossa! eu nunca pensei que deus fosse uma criança!

ele tirou os olhos do papel, olhou para ela e disse:

- eu posso ter a forma que eu achar mais divertida. posso ser uma mulher, se eu quiser. um homem, um cachorro, um pássaro, o sol, a lua, o oceano, tudo que eu puder imaginar. espero que você não queira que eu mostre tudo isso, para juntar toda água do oceano de volta é meio chato.

ela estava estupefata com a visão de deus sendo uma criança que rabiscava almofadas e rolava pelo chão. então o todo poderoso, sabendo disso, se transfigurou em algo que ela pudesse reconhecer mais como o criador do universo e da vida em si. no entanto, as almofadas continuaram por lá e a iluminação continuou a mesma.

depois de presenciar a transformação da criança na forma que ela achava mais apropriada para deus, ela perguntou:

- mas o senhor não está ocupado com alguma coisa boba, do tipo governar toda vida do universo e tal? como tem tempo para me atender aqui sem nem me deixar esperando um segundo sequer?

ele, com toda calma respondeu:

- tenho o mau hábito de estar em muitos lugares ao mesmo tempo, e também faço muitas coisas por vez. as pessoas dizem que isso não é exatamente bom, mas é muito funcional, sabe? é muita coisa para fazer, se eu não pudesse fazer esse tipo de coisa, eu não teria tempo algum... e, na verdade, eu faço isso melhor quando estou dormindo. aliás, eu não governo toda a vida do universo, eu a supervisiono. mas, já que começamos falar desses assuntos burocráticos, você não acha que deveríamos começar a entrevista? burocracia por burocracia...

ela pegou seu gravador de dentro da bolsa, apertou alguns botões e disse:

- tudo bem, então. vamos começar. segundo a entrevista com seu encarregado do equilíbrio, o senhor tem grandes planos para nós...

- mas é claro! sempre tenho grandes planos para vocês. vocês foram uma das minhas experiências que mais me surpreenderam. e isso porque eu não esperava que vocês iriam evoluir da maneira que evoluíram. eu esperava mais, muito mais.

- esperava mais? em que sentido? por que?

- esperava mais porque vocês foram meu primeiro projeto e, acho, todos se enchem de expectativas com o primeiro projeto. mas aí, né, deu no que deu. pelo menos os seguintes funcionaram melhor.

- os seguintes?

- sim, tenho muitos outros projetos. todos mais bem sucedidos que vocês, não leve a mal, eu assumo o erro. provavelmente foi algo no meio do processo, acho que pulei algum passo ou algo assim. tento de tudo para tentar recuperar, mas ainda não consegui.

- tentar recuperar o que, exatamente?

- vocês, oras. mas não adianta o que eu faça, vocês sempre estragam tudo. já tentei fazê-los serem politeístas, não funcionou. já tentei inúmeros messias, não funcionou. já tentei fazê-los super crentes e tementes à força superior - que nesse caso, seria eu -, não funcionou. já tentei fazê-los acharem que são o máximo e que nada é melhor que vocês, não funcionou. coloco cataclismos, desastres, coisas bem estranhas mesmo e nada funciona. todos me falam para abrir mão de vocês, mas eu não consigo. até criei um diabo para fazer com que vocês tenham medo e comecem a fazer as coisas certas, mas nem isso...

- falam para você abrir mão? quem?

- os outros que vivem nessa dimensão. achava que eu morava sozinho? não é bem assim. vocês são o meu primeiro projeto em um centro de treinamento de criação. aqui tem muitos outros que fazem muitas coisas parecidas, melhores ou piores. tem um mundo todo por aqui, sabe?

- então isso quer dizer que somos pequenos, ínfimos, puntiformes, que não fazemos diferença alguma para qualquer coisa maior?

- não é bem assim, minha querida. vocês podem não fazer diferença para o meu colega que é estúpido, mas para mim fazem. para quem me conhece também fazem. e sobre o tamanho, sim, vocês são pequenos, da mesma forma que eu sou, da mesma forma que... ah, deu para entender a ideia, não? é uma cadeia sem fim de menor para maior, até hoje nunca ninguém conseguiu chegar no começo dessa cadeia, alguns procuram, outros acham que isso é o que faz tudo ser divertido, outros acham que tudo isso é idiota e nem se preocupam, alguns chamam isso de pi...

- tudo bem, eu entendo. você disse estar desapontado conosco. algo em particular?

- muitas coisas em particular. primeiro de tudo, vocês se matam. a tendência que vocês tem para matarem-se me fez perder muitos pontos e algum certo prestígio até eu conseguir fazer melhor em outra oportunidade. mas vocês se matam por tudo, por dinheiro, por inveja, por falta do que fazer e até por mim! e não importa o que eu faça, não importa que tipo de estímulo eu possa dar, vocês vão continuar se matando.

- estímulo? como assim?

- estímulo, assim mesmo. ou vocês acham que, sei lá, jesus, maomé, gandhi, einstein, mozart, arquimedes, sócrates, nietzshce, foram coisas do acaso? não, estes foram criados exatamente para fazer mais ou menos o que fizeram.

- você quer dizer que eles foram induzidos a serem excepcionais? e o tal do livre arbítrio?

- o tal do livre arbítrio não foi tocado. eles poderiam não fazer nada, mas fizeram. eles foram programados para isso, mas existia a chance de não funcionar. e, não se preocupe, esse tipo de coisa só acontece com alguns poucos de vocês, temos regras para isso, sabe? senão seria muito fácil criar o mundo perfeito. a grande maioria de vocês é gerada de forma aleatória de acordo com o que foi criado na raíz. por isso que eu digo que o erro é meu, para sair tanta coisa errada assim, só pode ser problema de raíz.

- e essas atitudes que você tomou, não surtiram efeito?

- ah, funcionaram na medida do possível. esse tipo de medida consegue mudar uma ou outra coisa, não tudo. eles são limitados a um número bem reduzido, todos eles fizeram o possível e conseguiram bons resultados. se uma pequena porcentagem de vocês se salva, é por causa deles. só tenho que pensar sobre o que eu vou fazer com esses que se salvam, porque deve ser um tanto entediante e revoltante viver em um ambiente assim...

- e sobre as orações e os pedidos que as pessoas fazem para você? você as ouve, faz alguma coisa sobre elas? como funciona?

- ouço todas. algumas são bem engraçadas, mas a maioria é extremamente entediante. me impressiona como vocês só pedem as sempre mesmas coisas e não fazem coisa alguma para consegui-las. nada cai do céu para ninguém; a não ser chuva, ou quando alguém daqui faz chover coisas estranhas, tipo, peixes para rirem de vocês. ah, e não faço nada sobre as orações, não posso, as regras, sabe? tenho que recuperá-los pelo meio certo, senão não farei progresso algum.

- interessante. e como você lida com as pessoas que o odeiam?

- ah, eu as ignoro. vocês tem mania de culpar qualquer um pelo próprio sofrimento, menos quem tem que ser culpado. cada um é o causador do próprio sofrimento, nunca terceiros. mas é mais fácil para vocês, eu suponho, culpar outros. do porquê é mais fácil eu só desconfio, então não vou falar minhas suposições porque eu posso estar errado, então mais gente vai resolver que me culpar pela torradeira que queima é algo legal de se fazer. vocês realmente se dariam muito melhor se parassem de culpar uns aos outros e começassem a assumir os próprios erros e lidar com as consequências. parar com essa atitude de: "oh, a minha vida não deu certo, é culpa do meu vizinho invejoso." ou "deus me odeia, ele só acaba com a minha vida, aposto que é um prazer pessoal.", nem vizinho invejoso nem eu fizemos qualquer coisa sobre a vida de vocês, foram vocês mesmos. só assumam e lidem com isso. esse comportamento não foi culpa minha, eu vi pelo passo a passo da criação. isso é característica de vocês mesmo.

- e por que você não termina com tudo? já que tudo está tão mal assim?

- porque me apeguei a vocês, oras. gosto de vocês, vocês me dão o desafio de encarar um erro absurdo que cometi todo tempo, vocês me dão chance de melhorar o que eu faço, de tentar reparar meus erros, de ir contra todos para fazer o que eu acho certo, o tipo de coisa que eu gostaria que vocês fizessem. se bem que vocês tem um problema de matriz e talvez tentem fazer isso, mas como o princípio está errado, a aplicação do resto fica conturbada... o que não impede de vocês tentarem.

- já que se apegou a nós, quais são as medidas que você vai resolver tomar daqui para frente?

- estou pensando ainda. provavelmente algo com diminuir o número de vocês, escolher os melhores e deixá-los fazendo o resto do trabalho, para ver no que vai dar. é um bom experimento, se funcionar posso conseguir a entrada para uma boa instituição. só por ter conseguido superar o tipo de problema que vocês apresentam. mas, para conseguir fazer isso, eu preciso de autorização, documentação em três vias, projetos e mais algumas coisas.

- e o que aconteceria com aqueles que não atingirem os patamares necessários?

- eles provavelmente serão mortos.

- e o que vai acontecer com eles, depois de mortos?

- exatamente o que eles esperam que aconteça. quem acha que não existe nada, vai existir coisa alguma, quem acha que vai para uma festa no pós vida, vai para uma festa. quem acha que vai para um mundo de coelhinhos brancos, é exatamente o que vai acontecer.

- é isso que sempre acontece?

- só nas ocasiões especiais. nas outras não é bem isso que acontece, mas não vou entrar em detalhes.

- por que?

- porque a resposta poderia afetar o desenvolvimento do projeto todo. e isso eu me recuso a fazer. já fiz uma vez e não gostei do resultado.

- afetaria como?

- vocês ficariam mais cheios de si, ou menos cheios de si. felizes ou decepcionados, no fim só ia gerar caos. vocês ainda não podem ter certeza das coisas, como os outros podem. é melhor deixar quem acredita acreditando, quem não crê não crendo e quem não sabe de nada não sabendo.

-você disse que os outros podem ficar sabendo das coisas e nós não. por que isso?

- porque eles estão mais evoluídos que vocês. isso não os afeta como afetaria a vocês, por isso eles podem saber de algumas coisas e vocês não. uma coisa que vocês sempre erram é que todos vocês sempre exigem a verdade mas nem todos sabem lidar com ela. a verdade gera desconforto, na maioria das vezes. desconforto gera tristeza. tristeza faz com que vocês façam besteiras. aí, vocês fazem mais besteiras e culpam uns aos outros. e assim sucessivamente.

- entendo. e como funciona o politeísmo, você já o mencionou na nossa conversa hoje. tem alguém que ajude a regular tudo?

- a dimensão de vocês não, nem as outras que eu criei. mas, como eu já disse, muitos por aqui criam dimensões. e cada um cuida das suas, porque se fôssemos dividir nós realmente brigaríamos muito. o politeísmo existe na dimensão de vocês, mas todos os diferentes deuses são diversas formas que me apresento, só para que vocês se sintam mais à vontade. então, quem quer venerar o sol, pode e deve. quem quer venerar o oceano, pode e deve. alá, deus, oxalá, adonai, krishna, zeus, thor, todos são eu.

- se todos são você, por que todas essas discrepâncias nas religiões?

- religiões foram criadas por vocês, porque vocês precisam de regras. então, a maioria das religiões existentes foi criada a partir de alguém que pensou muito sobre o assunto e decidiu que as leis de conduta e comportamento que deveriam ser seguidas são frutos, única e exclusivamente, da cabeça dele. e como eu não posso me manifestar, ficou assim.

- e sobre o diabo? bem, ele existe, os motivos da existência dele são mesmo aqueles que ele disse?

- sim. ele existe porque eu o criei. porque vocês só aprendem sofrendo, então precisava de algo que colocasse isso para vocês. não faço eu mesmo porque não posso interferir além de um certo ponto. na entrevista com seu pai, ele disse que era porque eu não gostaria de sujar meu nome. besteira dele! acho que ele está tão acostumado com o trabalho que desenvolve que se esqueceu de como as coisas funcionam mesmo.

- você disse várias vezes que só pode se envolver até tal ponto, sei que não é da minha conta e parece ser totalmente além do meu conhecimento e entendimento, mas por que você esta dando esta entrevista? isso não iria além do tanto que você pode desenvolver?

- sim, iria, e vai. consegui permissão usando a entrevista de seu pai e os dados que foram colhidos a partir dela. bastante gente levou seu pai à sério, mas muito mais gente achou que ele fosse louco ou um bom escritor de ficção. então, com esse argumento eu consegui demonstrar que a entrevista seria um sugestivo como qualquer outro que é facilmente colocado para vocês.

- e por que eu fui escolhida para essa entrevista? por que não qualquer outra pessoa?

- porque assim ficaria mais subjetivo, geraria mais dúvida e seria só mais uma sugestão mesmo. porque as pessoas vão se questionar muito mais sobre a sua entrevista do que elas questionaram seu pai. porque elas tem a visão de um deus intocável, todo poderoso, onipresente, onisciente, oni-qualquer-coisa que você quiser adicionar. e para deus conceder uma entrevista, a pessoa deveria andar extremamente na linha de todas as religiões ao mesmo tempo - o que é impossível. e, além de tudo isso, seu pai entrevistou o meu rival, pelo menos vocês gostam de achar que o diabo é isso, então, para muitos, a filha dele entrevistando deus vai soar como alguém que quer atingir tantas ou mais coisas que o pai. devo dizer foi decidido pelos outros que fosse você quem viesse me entrevistar, os que fazem as regras daqui.

- isso é realmente muito esperto. e que lugar é esse? é o céu? estou na sua dimensão?

- não, essa é só uma realidade paralela no seu próprio mundo. a viagem e as coisas para distraí-la foram colocadas mais como meios para você acreditar que está em em outro lugar, fazendo o que você foi chamada para fazer. e a sua crença nisso é crucial para que você leve tudo isso a sério.

- achei muito legal! queria algumas daquelas bugingangas para mim. e anjos, eles existem?

- todas essas coisas religiosas que você acreditar que existam, elas existem. a chave para tudo é acreditar. mas é lógico que se você acreditar que vai ganhar na loteria, só por acreditar e por achar que todo o dinheiro lhe faria muito bem, não vai funcionar. o problema é que muitos de vocês direcionam o acreditar para coisas erradas, então vocês não sabem do poder que vocês tem só por poderem acreditar em coisas.

- vou tentar disseminar esse pensamento.

- é exatamente por isso que você está aqui. para disseminar essas ideias. e acho que você já perguntou tudo que era possível ser discutido aqui. então, eu vou, infelizmente lhe mandar de volta para sua realidade. com pesar, porque sua companhia realmente é muito agradável.

- pena, o senhor é muito bom de conversa. mas, já que é necessário...

ele, então, olhou para ela, deu um sorriso, voltou a ser criança, deu uma rolada pelas almofadas e estalou os dedos. quando ela deu por si, já estava de volta no meio de transporte, com todas as coisas que a entreteram na viagem de ida. mas, desta vez, havia uma pequena placa com os dizeres: "leve o que quiser." ela sorriu e aceitou de bom grado os souvenirs.

chegando de volta, ela foi mostrar um dos presentes para uma amiga e ele desapareceu, então ela entendeu que não deveria mostrá-los para ninguém. publicou sua entrevista em uma revista de renome, escreveu livros, ministrou palestras, ganhou mais alguns rios de dinheiro para sua família e não viveu para ver o que deus estava tentando planejar para o mundo. ou então viveu exatamente o suficiente para ver o que ele estava planejando.

17.5.10

a outra entrevista - parte I

depois da primeira entrevista, depois do rio de dinheiro que sua família pôde ganhar com a experiência, ela se viu em uma situação que fora descrita milhares de vezes. estava indo para uma dimensão desconhecida com uma tarefa sublime tal qual como seu pai vinte e cinco mais cedo. ela estava nervosa, afinal ninguém jamais havia realizado tal feito, e esperava por algo parecido com o que havia ouvido.

até o momento tudo estava de acordo: a viagem estava agradável, sendo distraída com alguns objetos que eram absurdamente interessantes - para compensar a falta de janelas e de filmes que estava acostumada das viagens de avião. e não durou muito tempo, cerca de meia hora da partida à chegada.

quando chegou, foi conduzida por um ser de aparência extremamente humana para uma área que ela não entendeu muito bem o que era. havia algumas almofadas espalhadas pelo chão, algumas plantas, era um ambiente aberto, bem iluminado - mas que não era possível saber de onde a luz vinha, um tipo de iluminação que, segundo qualquer pessoa acostumada com o sol, deveria ser adotado em todo o sistema com vida, porque era esplêndido - e havia uma criança rolando por entre as almofadas. como quem a conduziu até lá não deu maiores explicações, ela assumiu que ele estava lá para entretê-la enquanto esperava.

olhou para os lados e decidiu sentar-se em uma almofada. não passou muito tempo e a criança veio falar com ela. eles analisaram-se durante algum tempo, ele parecia remotamente familiar. ela não saberia descrever exatamente o que lhe era familiar, mas parecia como se ela sempre tivesse conhecido a criança. além disso, ele parecia ser amável, educado e um tanto curioso.

- posso ver o que tem nessa bolsa, senhora?

- mmm... pode, mas para cada coisa que você pegar, você tem que me responder uma pergunta. quer brincar disso?

- tudo bem, parece divertido.

a primeira coisa que ele puxou foi um caneta. na mesma hora ele a destampou e começou a rabiscar uma almofada.

- ei! não, por favor, vai estragar a almofada!

e ela tirou seu bloco de papel e entregou à criança.

- ó, rabisca aqui, é melhor.

ele deu uma pequena gargalhada e perguntou:

- você está preocupada com a almofada? não precisa, eu conserto.

na mesma hora a almofada voltou ao normal e ele deu alguns risinhos ao ver os olhos admirados dela.

- nossa, que legal, almofadas escrevíveis! mas agora você tem duas coisas da minha bolsa, isso quer dizer que eu tenho direito a duas perguntas.

ele não parou de rabiscar e só consentiu com a cabeça.

- da onde vem essa luz?

ele parou, olhou para cima e disse:

- não te agrada? pode mudar, ó. fala quando tiver bom.

sem tirar os olhos do papel ele fez as tonalidades trocarem como um canal de tv durante alguns segundos enquanto ela olhava estupefata para o alto.

- não, não é isso, pode deixar como estava.

- ah, que bom, aquela é minha favorita de todas. dá para trocar também a paisagem, na verdade, dá para trocar tudo, quer ver?

- não precisa, gosto desse, mas obrigada por oferecer.

- é esse também é meu favorito. você tem mais um pergunta, não tem? mas posso te perguntar uma coisa antes?

ela assentiu e ele prosseguiu:

- o que você está fazendo aqui?

- eu vim falar com alguém, fui chamada e disseram que era muito importante, então estou aqui esperando, eu acho. agora é minha vez: quem é você?

- ah, eu? eu sou o que você chama de deus.


para ler a segunda parte, clique aqui

11.5.10

12/01/08

nossa, faz tempo que eu não escrevo aqui. tá, não faz tanto tempo assim, mas eu sei que nem sou o tipo de menina que desabafa com o diário. então, quando as coisas apertam, eu nem escrevo.

o enterro da mamãe foi acho que como todos os outros enterros. nunca tinha ido em nenhum antes, teve um padre falando por horas, como ela tinha sido uma boa mãe, uma boa esposa, um bom membro da igreja e tudo mais. o que eu acho que foi muito errado, porque a minha mãe nunca foi nenhuma dessas coisas, tirando bem no finzinho. meu pai até segurou as pontas bem. estava todo mundo lá. foi muito chato ter que cumprimentar todos e dar um sorrisinho quando eles diziam que sentiam muito quando nem sentiam. daí teve o caixão lá descendo e alguns parentes dela chorando. eu só fiquei com cara de cu o negócio todo. a elisa ficou do meu lado praticamente o tempo todo. meu pai olhava pra gente com cara estranha às vezes. meio que tentando entender e não imaginar coisas sexuais. e eu aposto que ele estava imaginando, as vezes ele fazia uma cara estranha. mas nem vou julgar, deve ser muito estranho para um pai perder a esposa e descobrir que a filha está com uma menina quando ela deveria estar com meninos.

depois foi uma galera pra casa. coitada da fabíola, que teve que cozinhar pra esse mundo de gente. parecia final de copa do mundo. eu cheguei em casa e me tranquei no quarto. a elisa foi também, já que eu tinha pedido pro meu pai e ele deixou. nos trancamos no quarto e ficamos deitadas, ela fazendo carinho na minha cabeça e eu olhando pro teto. ela começou aquela conversa de "vai ficar tudo bem" e tal. eu virei pra ela e disse o quanto estava feliz por ela estar lá. ela ficou olhando para mim com cara de boba, eu continuei falando que gostava muito dela e que não queria estar perto de mais ninguém. ela ficou com cara de idiota sorrindo, sabe aquela cara de criança que ganhou um presente? quando ela começou a dizer que gostava de mim eu disse que não precisava, que os olhos dela me diziam tudo que ela queria me dizer. tá, foi piegas, mas foi verdade. logo depois disso meu pai abriu a porta sem bater e se deparou com a gente deitada fazendo carinho nas mãos. ele olhou meio assustado, pediu desculpa, fechou a porta, bateu e eu falei pra ele entrar rindo. a elisa ficou meio sem jeito, mas eu achei a situação engraçada. ele disse para a gente descer que a comida estava pronta e saiu sem jeito.

a elisa olhou pra mim com uma cara de "que?!" e eu expliquei pra ela que eu tinha contado pra ele e tal. falei que eu tinha achado que já que ele estava super por baixo seria uma boa hora de contar, já que ele não iria brigar porque estava totalmente destruído. ela olhou pra mim assustada e eu falei pra ela ficar numa boa porque não ia acontecer nada. ele não ousaria fazer nada contra isso na fase que a família estava passando.

descemos, comemos, todo mundo foi embora. ficamos meu pai, a elisa e eu. ele veio querer conversar com a gente mas estava óbvio que ele estava incomodado. aí eu falei pra ele que nada precisava mudar, que ele continuaria sendo meu pai querido e que nada no mundo poderia mudar isso para mim. aí ele levou a elisa na casa dela, foi simpático com os pais dela, os agradeceu por deixarem a elisa passar tanto tempo comigo, já que a minha mãe tinha morrido e tal. e isso com nós duas do lado, foi embaraçoso. eles agradeceram por cuidar tão bem da elisa e tudo mais e disseram que enquanto ela quisesse estar comigo ela poderia e todas aquelas coisas de adultos.

voltei conversando com meu pai, ele explicou que precisaria de algum tempo para se acostumar, mas que nada mudaria em relação à elisa. ele disse que sabia o tanto que ela me ajudava e tudo mais. eu fiquei feliz por ele entender que ela era importante para mim. no dia seguinte levei café na cama para ele e comemos juntos.

não sei como ele está lidando com a morte da mamãe, ele continua indo ao psicólogo, o que eu acho ótimo. continuou tudo um tantinho normal nesses dias pós-enterro. só a clarice, colega de trabalho dele, que veio aqui algumas vezes, e ela foi super simpática comigo e tal. sei lá, espero que ele não esteja tendo um caso com ela. ela parece ser legal demais para que eu a odeie por um motivo tão bobo.

e eu vou parar de escrever, tá comprido demais isso e amanhã vou ver a elisa. s2.

5.5.10

ela

você já conheceu uma mulher forte? eu já. não estou falando de força física, é aquele tipo de mulher que causa espanto de alguma forma, chegando até a amedrontar. esse tipo de mulher aparenta que pode fazer qualquer coisa, a hora que quiser, com quem bem entender. isso amedronta, porque ela pode decidir fazer o que quiser com você.

eu a conheci muito tempo atrás, quando ela ainda não sabia todo o potencial que ela viria a ter. tenho a impressão que foi só por isso que pude me tornar próximo a ela. antes ela não selecionava tão bem as pessoas com quem se relacionava como ela faz agora. hoje em dia ela só deixa pessoas extraordinárias terem o tipo de aproximação que eu tenho com ela. e eu não tenho nada de extraordinário, sou bem do medíocre, se me cabe dizer. mas não é sobre mim, é sobre ela.

a primeira vez que a vi estava em uma festa. tinha acabado de chegar e estava num canto tentando achar onde estavam as bebidas. notei-a facilmente, ela destoa da multidão. todas as mulheres assim destoam, chamam atenção, e com ela não haveria de ser diferente. ela tinha cabelos compridos pretos, até a metade das costas, pele branca como se nunca houvesse visto a luz do sol, tinha o corpo perfeito: nada sobrando, nada faltando. fiquei alguns segundos reparando nela, ela era muito exótica para o tipo de pessoa que eu conhecia. nesse meio tempo um conhecido chegou. nos cumprimentamos e eu aproveitei para perguntar onde as bebidas estavam. ele me apontou ao local e eu fui pegar algo pra mim. enquanto estava curvado dentro do freezer tentando achar algo que eu gostasse de beber, senti uma mão em meu ombro me chamando. quando levantei e me virei para ver quem era tomei um susto. era ela, sorridente, com aquele olhar que só ela sabe fazer. ela perguntou educadamente o que tinha para beber e eu, calmamente, listei as coisas que tinha visto no freezer. ela pediu que eu pegasse uísque e quando eu perguntei se colocaria guaraná ou qualquer coisa para diluir ela só disse: "duas pedras de gelo.". não consegui esconder a minha cara de susto, até então não tinha conhecido mulher alguma que gostava de bebidas fortes. depois que eu preparei o drink para ela, ela me perguntou sobre a pessoa que estava dando a festa. eu disse que ainda não a tinha visto, mas que provavelmente estaria esperando a hora certa para chegar e chamar a atenção de todo mundo. ela concordou comigo, e disse que iria procurar pela pessoa. logo depois, virou as costas e saiu me deixando um tanto transtornado.

nosso segundo encontro aconteceu umas duas ou três semanas depois da festa. eu estava na fila do caixa do supermercado quando ela chegou com umas duas caixas de cerveja e disse que me conhecia da festa. me assustei, até então eu não imaginava que esse tipo de gente exótica saía de dia, sei lá, eles eram como morcegos para mim ou algo parecido. nós conversamos por uns cinco minutos e chegou a minha vez de pagar os produtos, nos despedimos e eu fui embora. até hoje acho que ela só veio falar comigo para furar a fila, apesar de ela nunca ter admitido isso.

o outro encontro só aconteceu uns dois meses depois, mais ou menos. um outro amigo em comum estava fazendo aniversário e achou que seria legal juntar as pessoas mais próximas em um bar para conversar e beber. fiz questão de estar atrasado, mais ou menos duas horas, todos eles demoravam muito para chegar e eu sempre detestei ficar esperando. quando cheguei quase todos já estavam lá. alguns amigos mais chegados me abraçaram e me apresentaram formalmente aos dois ou três que estavam na mesa, o que ainda não tinha acontecido. conhecia dois de vista e o terceiro era uma boa peça de cenário, já que ele não fez diferença alguma. ela era uma dessas três pessoas, estava cheia de anéis. acho que foi um pouco antes daquele dia que ela começou a usar anéis, não me lembro deles das outras vezes que a encontrei. abriram lugar para que eu me sentasse, e, por sorte ou ocasionalidade, era exatamente ao lado dela. o que as pessoas nunca lembram em encontros de bar é que você tem uma gama inferior de gente para conversar, já que, se houver mais de seis ou sete pessoas, você não irá levantar para falar com alguém que está na outra ponta da mesa. logo que me sentei, ela abriu aquele sorriso e disse algo mais ou menos assim: "então é você que é o famoso, certo? por que não chegou mais cedo? queria ter mais tempo para decidir se você é tudo que falam mesmo ou se eles não sabem descrever uma pessoa com exatidão.". eu dei um sorriso de canto de boca, daqueles bem sacanas, e falei para que ela não acreditasse em quem tinha dito boas coisas sobre mim, já que meus amigos são todos idiotas de alguma forma. acho que foi essa resposta que fez com que ela esquecesse do resto das pessoas e ficasse por horas conversando só comigo. depois de alguns meses de convivência mais próxima descobri que ela realmente se interessa por gente bem humorada.

nós não marcamos de sair os dois juntos durante os próximos seis meses. até então só nos víamos quando havia alguma reunião de amigos ou coisa parecida. e sempre que elas aconteciam nós ficávamos horas conversando sobre assuntos totalmente incomuns. ela é meio mística e ganhava uns trocados lendo tarot para as pessoas. hoje não são mais trocados, mas ela continua lendo tarot para as pessoas. descobri bastante coisas sobre ela nesse tempo. ela já tinha começado a ser a femme fatale que ela é hoje. quebrava corações com uma frequência absurda, mais ou menos um a cada duas semanas, usava todos os homens como queria e quando queria. nesse ponto ela era mais cafajeste que todos os homens que eu conhecia, inclusive eu. acho que cabe dizer que eu nunca tive nenhum tipo de queda por ela, sempre a olhei como alguém que admira alguma obra de arte. assumo que a ideia já tenha passado pela minha cabeça, entretanto. mas depois que a conheci melhor tive certeza de que ela não era para mim, não me daria muito bem com esse tipo de mulher.

a primeira vez que ficamos só nós dois juntos foi quando ela estava se mudando. ela estava saindo da casa dos pais, indo morar sozinha e precisava de ajuda para instalar chuveiro, essas coisas, que segundo ela, são coisas de homem e que ela sempre se negou a aprender. e como o pai dela estava ocupado com alguma coisa, eu era o único homem que sobrava que ela conhecia que não queria nada sexual com ela. fui lá e fiz meu papel de macho alfa. depois que terminei de arrumar todas as coisas, nós sentamos, bebemos coisas e conversamos mais. até uma hora que ela me mandou embora, literalmente, porque estava esperando alguém chegar. não duvido que estivesse esperando alguém de fato, quando eu saí do elevador no térreo dei de cara com um cara com cara de babaca que fazia bem o tipo dela. ri comigo mesmo e fui para minha casa. na próxima vez que a encontrei, perguntei sobre aquele homem, ela riu e disse que ele não havia passado no teste. eu ri porque eu sempre soube sobre o que era o teste dela.

nós ficamos muito próximos e ela foi ficando cada vez mais forte, cada vez mais bonita, cada vez mais categórica. na cabeça dela só existiam dois tipos de coisa: as que ela gostava e as que não tinham motivo para existir. as últimas ela fazia questão de excluir de todo seu entorno sem a menor dúvida ou problema. elas as liquidava, simplesmente. quantas amizades desfeitas, quantos bate bocas, quantos corações partidos... não o dela, suponho que homem algum nunca tenha conseguido magoá-la a ponto de partir-lhe o coração. nessa época que ela estava descobrindo o tamanho da força que tinha ela ficou praticamente insuportável. talvez seja porque justamente nesse tempo eu fui morar com ela.

é, fiz essa besteira. ela morava sozinha, eu estava com alguns problemas, éramos amigos bem próximos e fui morar lá. não aguentei dois meses. ela tinha uns horários absurdos: resolvia limpar a casa toda às duas da manhã ouvindo rock dos anos sessenta, me acordava às quatro da manhã com um bolo quentinho perguntando se eu queria um pedaço, isso quando ela não chegava com um monte de gente sei lá de onde para terminar a noite. não deu, foi o jeito mais rápido que eu sempre encontrei para ter um lugar meu para ficar. era só passar uns dias na casa dela, muito mais eficaz que a minha mãe querendo controlar meus horários.

o incrível é que ela sempre teve muita gente ao redor dela. gente que ela ajudava, gente que só ficava por ali mesmo, gente que gostava dela e uma pequena legião de homens - e algumas mulheres - que queriam ser o amor da vida dela. acho que ela sempre achou graça de tudo isso. ela sempre achou incrível como as pessoas poderiam gostar dela se ela não se esforçava para que isso acontecesse. e depois de um tempo ela não deixou quase ninguém conhecê-la de verdade, ela sempre me disse que era por proteção, nunca discordei. mas uma das coisas que mais me impressiona é que eu nunca a vi pedindo ajuda para qualquer pessoa. provavelmente ela sabia que ela era uma das mais fortes e que ninguém seria forte o suficiente para ampará-la. é óbvio que ela teve seus momentos de crise, mas como ela lidou com eles eu nunca soube.

depois de certa época na vida, ela sempre fez o que quis, a hora que quis e do jeito que quis. e ninguém era forte ou louco o suficiente para ir contra ela ou contra o que ela queria. tanto que eu estou aqui, ainda falando sobre ela no presente, enquanto eu estou fazendo sua última vontade. falar sobre ela, sem ter preparado nada, sem nem ao menos ter pensado sobre o que eu iria falar porque ela sempre quis espontaneidade perto dela. só fui avisado mais ou menos quinze minutos atrás. todos que estão aqui concordam que ela é o tipo de pessoa que muita gente conhece, mas que pouca gente tem o mérito de conhecer como é de verdade. eu posso dizer que sou privilegiado, porque eu realmente a conheci de verdade, já que sou eu que estou aqui falando sobre ela para vocês. me sinto honrado ao fazer isso, já que ela pediu em uma carta cheia de sentimentalismos e chantagem emocional para que eu estivesse aqui. só li essa carta há pouco, falo mais uma vez, mas a conhecendo como eu a conheci, por mais de trinta anos, sei que ela não faria diferente por qualquer razão.

mais de trinta anos convivendo com ela praticamente diariamente, e é a primeira vez que algo a venceu. e mesmo depois disso, ela continuou mostrando que sempre a vontade dela era a que prevalece. mulher forte. nunca fique muito próximo de uma mulher forte, ela vai marcar toda sua vida. conselho de amigo, eu fiquei perto demais e eu nunca mais serei o mesmo.

3.5.10

f5

conto novo em vias de. preciso lembrar de colocar amanda aqui.