31.5.09

assassino

aí que ontem à noite conheci um assassino. assassino mesmo. ele descreveu detalhadamente como ele tinha matado os dois caras que ele matou. achei interessantíssimo.

estava no ponto de ônibus, fumando um cigarro, esperando o ônibus para voltar pra casa depois de um dia interessante de trabalho, quando um homem se aproxima e me pede um cigarro, fui com a cara dele, saquei o maço de cigarro do bolso e dei um pra ele. quando ele viu que era um maço de lucky strike vermelho ele exclamou: "caralho, o índio! mais velho e mais tradicional que o marlboro!" eu respondi com um sorriso e um caloroso "gosta dos luckies?" ele deu um sorriso e emendou um "então, na humildade, sou ex-presidiário e to pedindo uma ajuda, preciso voltar pra ibiúna... e eu to pedindo pra mostrar que as pessoas podem mudar..." eu, super curiosa perguntei "foi preso por quê, velho?" eu comentei "ah, roubo a banco não pega nada, os caras tem seguro e tal, zoado é roubar o cara no busão, que tá voltando do trampo e ganha pouco." aí ele fez uma cara um tanto psicótica e disse "roubo a banco, nossa, cara, eu lá vendo aquele monte de euro, dava uns oitocentos mil reais na época, já pensei na casa que eu ia comprar em santos, na minha viagem pra fernando de noronha... mas aí quando a gente tava saindo do banco só vejo a garra na esquina, eu tava com uma doze, me escondi atrás de um poste, olhei pra onde eles tavam, dei um passo pra frente, dei dois tiros. um pegou na cabeça, o outro na barriga. matei o cara. peguei dezesseis anos... se não fosse a minha mãe e meu advogado eu estaria morto agora, levei tanta porrada que fiquei um mês em coma e uns quatro meses de cadeira de rodas." eu respondi "caralho, mas, velho, você matou um cara?!" aí ele respondeu "matei..." e eu na maior curiosidade "porra, como que você se sente ao matar alguém? tipo, beleza que na hora ou era você ou era ele, então foi meio que um lance de sobrevivência, mas como você se sentiu?" ele fez uma cara mais psicótica ainda, com um certo brilho nos olhos que, depois de percebê-lo, não teria como imaginar que a história não seria verdadeira, e respondeu calma e pausadamente "não queira saber, sério, não queira saber. ... posso te falar que na hora que você está pra matar alguém, não existe deus, anjo, coisas boas, você não pensa que o cara é pai de família, só tem o demônio com você. só você e o demônio, mais ninguém." aí eu me ofereci pra acender o cigarro que tinha dado pra ele, já que ele tinha começado a contar a vida dele desesperadamente. acendi, ele falou "nossa, cara, você é legal, porque ao mesmo tempo que você tem essa postura de gente fresca, você fala a língua da galera, porra, muito legal..." eu agradeci e perguntei "e aí, cara, saiu faz tempo?" ele me respondeu "tô em condicional, mudei cara, conheci coisas que são bem maiores, na lei do homem eu já escapei, na lei de deus não, deus sabe tudo, deus vê tudo. algum dia eu vou conseguir fazer igual ao chico xavier..." aí eu "você se converteu como espírita?" ele respondeu "é, to no kardecismo. é bem legal." eu falei "você sabia que dizem que chico xavier foi reencarnação de kardec?" ele olhou pra mim e falou "lógico! aquele que era o cara! kardec é um anjo agora, cara, e deus, deus é maior que tudo, deus é maior que o universo, deus é a coisa mais incrível que existe." eu olhei pra ele com uma cara de óquei e ele contou mais uma história da vida dele "então, aí minha mãe tinha uma loja de fita de fliperama lá em são miguel... daí um cara chegou lá e roubou uma porrada de fita e ainda levantou a mão pra minha mãe. nem eu que sou eu alguma vez já levantei a mão pra minha mãe, ninguém pode levantar a mão pra minha mãe, a mulher é uma santa. quando ela fala, eu abaixo a cabeça e saio na humildade, não importa o esporro que ela me dê..." eu, só pra ver onde ia chegar a história, falei "cara, mexer com mãe não pode, mãe é sagrada!" ele continuou "então, daí a minha velha nem quis me contar, porque ela sabe o jeito que eu sou, mas a minha esposa me contou. tava com uma quarenta e cinco na época, dei meu jeito, descobri quem tinha feito, colei lá, os caras tavam de boa, sentadinhos num bar, se divertindo. peguei e dei dois tiros na titan verde do cara. daí os caras ficaram todos com cara de assustados, eu não conhecia o cara e falei: 'quem tava com ele na fita fala agora.' ninguém falou nada, tava todo mundo com medo do cano. o cara se apresentou, eu mandei ele ajoelhar, amarrei as mãos dele, os pés e joguei no porta malas do carro. saí, fui pra um matagal que tem por lá, foram dois tiros, um em cada olho. antes de atirar eu falei pro cara, 'assim você aprende a não levantar mais a mão pra mãe de ninguém, seu vagabundo. você nunca mais vai levantar a mão pra mãe de ninguém' e atirei. peguei o querosene e taquei fogo no carro com ele dentro." fiz uma cara meio impressionada, dei as poucas moedas que eu tinha pra ele. ele agradeceu e falou "então, mina, você é gente boa pra caralho, mas eu ainda tenho que resolver essa fita de ibiúna que eu tenho que estar lá amanhã, vou nessa. prazer te conhecer!" eu respondi "beleza, moço, boa sorte aí." ele já tinha começado a descer a rua e falou "henrique!" eu retifiquei "boa sorte, henrique!"

ele foi embora e eu fiquei esperando o ônibus pra ir pra casa.

29.5.09

matemática aplicada:

felicidade = x + y + z + (QWERTY . 3,14)/π


logo:

x + y + z + QWERTY = felicidade


sendo que x equivale ao período em que você mais espera do dia, tal que y seja a segunda coisa que te faça mais feliz no mundo, com prova real que z é o que te faz mais feliz no mundo e tomando QWERTY como a variável, temos nesta equação:

madrugada + vodka + luckies vermelhos + música depressiva = felicidade

25.5.09

não entregue

"precisei tanto de você ontem à noite... onde você estava? na verdade, eu preciso muito de você sempre. você me dá estabilidade, é como se você fosse meu contra-peso. sem você eu sou um helicóptero sem a hélice de trás, que voa em círculos e se espatifa no chão depois de um tempo. onde você está agora que não está aqui, perto de mim? estou me espatifando de novo...

você também me direciona, você consegue, com uma frase tirar, todas as minhas dúvidas de onde eu devo chegar. me dá a serenidade para conseguir fazer a viagem sem me perder. você é minha bússola, meu contra-peso, onde você está que não do meu lado? eu sei que eu estou no caminho errado de novo...

você consegue tirar o melhor de mim. eu sou como uma pedra preciosa toda disforme e você é como o ourives que a lapida para que ela chegue ao seu melhor. você faz minhas qualidades crescerem e meus defeitos diminuírem. eu fico mais bonita perto de você. e cadê você aqui perto de mim? estou engordando de novo e ficando cheia de espinhas.

eu sei que eu preciso mais de você do que você de mim, você também sabe disso. não é nem que eu precise mais de você, derradeiramente, só são necessidades diferentes. é que as suas parecem ser muito mais fáceis de serem supridas do que as minhas. então eu espero que você não ache mais ninguém que possa lhe suprir o que você precisa, porque senão eu vou ficar sem rumo, sem balanço, sem beleza.

ontem à noite foi tão difícil... precisava de alguém para me dizer que tudo estava indo bem e dentro do planejado. precisava de alguém para me preencher, tirar o vazio que deixaram aqui, recolocar os produtos nas prateleiras do supermercado, precisava de alguém que fizesse carinho na minha bochecha até eu dormir. você me completa, você é a peça que faltava do quebra cabeça, a peça central que sumiu logo que a caixa foi aberta, e que ficaram procurando por anos.

não digo que eu sem você sou ninguém, porque sou alguém, e alguém interessante até. mas eu sem você sou incompleta, indiferente, insípida. preciso de você para me guiar, para me balancear e para me motivar para que eu consiga fazer o que eu tenho que fazer. você é meu combustível. onde que você estava ontem à noite? passei a madrugada parada numa esquina de um cruzamento deserto sem gasolina..."

ela envelopou e fechou a carta curta que ela nunca entregaria ao destinatário. o porquê de ela não entregar? ela queria entregar pessoalmente, e isso ela não poderia fazer naquele momento.

diálogo real:

ái, amiga, o que você acha dele?
eu acho que ele é meio possessivo.
você acha isso mesmo? ele parece ser tão cuidadoso comigo.
sentimento de posse.
ah, mas...
e digo mais, ele vai começar a te prender em casa, não vai te deixar ver teus amigos.
ele não é assim, ok?
então ele vai se sentir como se fosse seu dono.
ele jamais faria isso...
daí ele vai começar a te bater e ficar cada vez mais psicótico.
pára de viajar...
então ele vai te matar, cometer necrofilia, te esquartejar e desovar teu corpo por partes diferentes e distantes da cidade.
*feição amedrontada*

19.5.09

dos sons e das cores

o som do queimar do cigarro contrastava com o som do cantar dos pássaros ao despertarem para mais um dia de trabalho. não dormira ou dormira muito pouco, não se lembrava direito. talvez esse branco na memória seria efeito de tantos cigarros consumidos com o estômago plenamente vazio e noites sem dormir que já tinham virado hábito comum para este ser humano que se julgava superior aos outros.

o cantar dos pássaros era irritante, irritantemente bonito, irritantemente alegre e feliz para aquela existência que ainda não achara o valor da tão falada felicidade. desejava acima de tudo ter a capacidade de desligar o cantar das aves como se tem ao desligar o rádio quando alguma música irritante é tocada.

ouvia sons disformes cinzamente coloridos conforme os primeiros raios de sol adentravam o recinto. os tons de cinza chocavam com sua imensa realidade cinza-sem-cor, cinza-sem-alegria, cinza-sem-forma que tomava conta de sua vida. e o cantar dos pássaros tão colorido, tão alegre, tão audível... era como um tapa na cara de tudo que poderia existir em sua vida mas que por um decreto passou a não fazê-lo.

a fumaça do cigarro entrava nos olhos, doía a alma, preenchia instantaneamente o vazio por segundos até ser expelida do corpo como algo que não serve mais. o cinzeiro recheado de pontas e restos de cigarros queimados era uma alusão plenamente verdadeira de sua vida, o conteúdo do cinzeiro poderia ser o conteúdo de sua alma debulhado e posto à mostra como em uma exposição de arte fiel da vida como ela é.

esvaziou o cinzeiro. esvaziou sua alma. acendeu outro cigarro para preencher de cinza-sem-vida a falta que o limpar do cinzeiro lhe trouxe. os pássaros cantavam, o sol entrava rapidamente pelo recinto e não acabava com o frio que sentia por seus ossos que lhe subia à espinha. uma criança chorou. finalmente um som que conseguiria compactuar. chorou chorou chorou. jorrava lágrimas pretas espessas e pegajosas que deixavam um rastro de dor que contrastava com o cinza de sua vida. passou a desgostar do choro da criança e começou a repeli-lo como ao cantar incessante dos pássaros. agora tinha o colorido e o negrume para lidar ao mesmo tempo e não gostou nem um pouco da idéia.

levantou. andou como um zumbi até o banheiro alvamente branco. olhou-se no espelho e jogou a primeira coisa que tinha em mãos para tirar a visão fantasmagórica de seus olhos. nada foi quebrado. se ao menos toalhas fossem mais rígidas... os pássaros cantavam coloridos do outro lado da janela. a criança chorava preto por todo ambiente. a torneira pingava sons disformes furtacor a cada pingo. ping. ping. ping. ping. ping. ping. pegou a primeira coisa sólida o suficiente e atirou contra o espelho.

o som do quebrar do espelho fez cessar por instantes o cantar colorido dos pássaros o choro negro e viscoso da criança o pingar furtacor da torneira e por um breve momento a paz reinou. mas o cantar colorido voltou como uma avalanche o choro viscosamente negro voltou a inundar o ambiente. o pingar voltou trazendo um arco-iris para dentro do banheiro alvamente branco. o cinza foi abalado por toda essa mistura de sons e cores.

agarrou um pedaço do espelho quebrado e enfiou sem cerimônia alguma em seu pescoço. o som do ar entrando diretamente pela traquéia preencheu o ambiente alvamente branco com um som vermelho-sangue, que teve o poder de fazer cessar progressivamente todos os outros sons e cores e o silêncio do cinza finalmente pôde reinar soberano naquela alma.

18.5.09

asteróide, venha logo, por favor! ou o conto da moça e do moço

ela era uma moça, assim, meio sem coração, não gostava de ninguém de verdade. era calma, relaxada e fácil de se lidar. para falar a derradeira verdade, a moça não se importava com nada, tampouco com si própria. adotara um comportamento autodestrutivo há muitos anos para ver se conseguiria ser extinta - sem herdeiros - mais cedo da face da terra. ela, ainda por cima, ostentava uma pequena coleção de camisetas com os dizeres "asteróide, venha logo, por favor!". há muito tempo a moça não odiava nada a mais, já tinha odiado com todas as suas forças tudo que era possível: os pais, a política, o país, os seres humanos em geral... até um dia em que se cansou deste sentimento destrutivo e passou a, simplesmente, ignorar tudo que fosse medíocre ou que dissesse respeito à coletividade humana.

apesar da indiferença ela era comum. tinha um emprego que gostava, família, amigos, namorado... é necessário que seja elucidado que ela mantinha todos perto de si somente por necessidade, estritamente por egoísmo, cada um deles lhe sanava em o que lhe pudesse faltar. egoísta era, má pessoa não, a não ser que possa ser alguém que perdera o gosto pela vida uma má pessoa.

entretanto, algumas coisas lhe eram capazes de proporcionar secretamente absoluto prazer: desastres naturais de todos os tipos, mortes das formas mais idiotamente absurdas - como alguém que morre congelado ao tentar escalar uma montanha muito alta -, crianças batendo diretamente com o rosto contra portas de vidro, doenças desconhecidas, muito contagiosas e mortíferas. ela gostava mesmo é de ver o que ela chamava de massa ignóbil e acerebrada despopulando o mundo, para que este pudesse vir a ser um lugar melhor povoado.

a moça começou a perceber que ela vinha tendo momentos de absoluto prazer cada vez mais frequentemente, e achou um tanto estranho. decidiu mudar um hábito praticamente enraizado e começou a analisar o mundo como um todo. percebeu que a massa estava cada vez mais vil e fazendo coisas estúpidas como nunca. os desastres naturais estavam ficando cada vez mais recorrentes, além de passarem a ocorrer em lugares não comuns, causando enorme surpresa; as grande massa havia aprimorado sua estupidez a um patamar jamais alcançado, estavam literalmente se matando por coisas tão pífias que não valeriam nem a menção póstuma. ficou estupefata quando percebeu que o mundo não os queria mais lá, e estava fazendo seu máximo para desalojá-los da terra apossada. notou que estavam todos muito perto de seus fins, as pessoas, os animais, as nações, o mundo e ela mesma. e sentiu-se feliz como jamais ficara em sua vida, porque além de perceber que tudo estava ruindo, ela seria capaz de presenciar tal ruína.

entretanto, não houve fatos progressivos que culminaram para o derradeiro fim. a situação ficara um pouco mais exacerbada, há de ser mencionado, mas nada que justificasse o que viria a ocorrer. foi meio inesperado e um tanto natural, nada de seres extra terrestres explodindo o mundo ou coisa do tipo. o mundo simplesmente resolveu entrar em colapso por si só. começou praticamente da noite para o dia, a diferença é que foram sete noites e sete dias, seguindo geograficamente o nascer e o pôr do sol do oriente ao ocidente.

os primeiros acontecimentos foram os vulcões ativos e inativos que começaram a jorrar o sangue caloroso da terra graciosamente sincronizados como bailarinas russas. o fenômeno se espalhava conforme a luz do sol tocava a terra, assim foi em todos os continentes, sem distinção alguma entre credo, cor, riqueza ou pobreza. o mundo estava farto dos seres parasitários assim chamados de seres humanos. assim que a lava começou a ser expelida, os noticiários do mundo inteiro relatavam o que parecia ser o efeito mais estranho que já se tivera notícia em toda a história conhecida. a população começou a entrar em desespero, as autoridades tentaram acalmar a situação dizendo que tudo se normalizaria em breve - por mais que eles não fizessem a menor idéia do que acontecia - e pediam veementemente para que a população das áreas não afetadas mantivesse a vida normal e continuasse com seus hábitos diários. e a moça parecia ironicamente feliz.

no dia seguinte, em sucessão às erupções vulcânicas, veio o grande terremoto. desta vez, nenhuma parte da crosta foi deixada de lado, toda ela tremeu violentamente seguindo o caminho que o sol fazia, como uma onda enorme que se move lentamente em direção à praia. o terremoto não durou por mais de dez minutos em cada parte da terra. houve destruição e muitas mortes, poucas edificações se mantiveram em pé, o que dificultou muito a chegada de informação para a população mundial e o caos se instaurou. as pessoas corriam de um lado para o outro tentando, em vão, salvar suas vidas. começaram a se matar para conseguir viver um pouco a mais, roubavam mantimentos e água uns dos outros e rezavam - inclusive muitos que se consideravam ateus - para que tudo voltasse ao normal o mais brevemente possível. a essa altura dos acontecimentos, a moça estava radiantemente feliz, pegou um pouco de comida, água e alguns maços de cigarros de sua casa e foi calmamente para a parte de cima da maior montanha inabitada de sua cidade, de lá poderia ver melhor o caos tomando conta de tudo que seus olhos eram capazes de alcançar ao seu redor.

o terceiro nascer do sol trouxe a ira das águas. inundações, tsunamis, rios se tornando imensos oceanos levando todo o seu entorno consigo. chuva, muita chuva torrencial. muitas ilhas foram varridas para baixo dos oceanos, milhões de pessoas morreram afogadas. já não havia mais telecomunicações, toda ela havia sido dizimada por conta dos acontecimentos até então. um pedaço da montanha em que a moça estava cedeu, mas ela se moveu para uma outra porção que ficou a mostra feita somente de pedra e lá adormeceu a espera do dia seguinte.

o sol fez com que o vento se mexesse com muita força e rapidez quando a manhã chegou, de forma com que a água ficasse cada vez mais revolta e a levou para as áreas mais altas, as árvores que se mantinham em pé até então balançavam absurdamente e algumas saiam voando, tudo voava com a graciosidade que a situação conseguia colocar em prática. o tempo de ventania foi muito mais demorado do que o do terremoto, ventou incessantemente por horas a fio. a moça conseguiu se abrigar em um lugar seguro e conseguiu não ser levada pelo vento. pôde notar que depois que o vento cessara a água baixava rapidamente, da mesma forma que uma pia esvazia quando se tira o tampão. nesse dia ela não conseguiu fumar um cigarro sequer, somente à noite, quando o vento passou, ao assistir, com extrema felicidade, à água voltando ao nível normal sob a luz da lua.

o quinto dia desde que o mundo decidira expulsar os seres humanos de seu domínio começou com um zunido muito estranho, exatamente o som de todos os insetos do mundo aglutinados em um grande exército por ar e solo. a grande nuvem que ia do céu à crosta se movia lentamente consumindo os corpos inertes dos que já haviam sucumbido e dos que ainda lutavam por suas vidas. o fenômeno durou por muito tempo, do nascer ao pôr do sol. a moça não temeu o destino que ela tomara por certo quando viu a nuvem de insetos homicidas vindo em sua direção. acendeu um cigarro e esperou que chegassem e a consumissem. incrivelmente, eles voaram por sobre ela e mudaram o caminho em terra de forma a evitá-la. a única possibilidade que ela conseguiu pensar foi que a fumaça do cigarro fora capaz de repeli-los. logo depois reparou que ironicamente o cigarro tinha salvo sua vida, ou pelo menos postergado o fim até o dia seguinte.

na sexta manhã ao acordar a moça percebeu que não havia movimentação, correria, gritos histéricos, movimento, choro, nada proveniente de seres da mesma espécie que a dela. logo pensou que ela seria um dos últimos seres humanos na face da terra. a calmaria durou pouco tempo, um pouco depois do nascer do sol tudo que havia acontecido anteriormente retornou com força total, todas as catástrofes juntas como se fossem membros de um time que estava jogando para ganhar. quando a moça percebeu que todas as catástrofes vinham juntas em sua direção, em velocidade extraordinária - parecendo que o mundo, para garantir que o serviço fora bem feito, juntava todas suas armas para garantir que não sobrasse ser algum vivo -, decidiu enfrentar sua tão esperada e estimada hora de peito aberto se entregar, finalmente, à morte. levantou-se, abriu os braços, fechou os olhos e esperou. esperou... esperou... esperou... abriu um pouco os olhos e só viu a destruição ao seu redor, mas ela continuava viva. abriu totalmente os olhos e arriscou se mexer. analisou cada pedaço de mundo que seus olhos podiam alcançar e não entendeu o que havia ocorrido, se sentou. fumou um cigarro. contemplou o mundo devastado pelo resto do dia, ainda achando muito estranho que estivesse viva e sem qualquer sequela. o anoitecer não tardou e ela adormeceu.

no sétimo dia desde o início do fim ela foi acordada por um homem. a visão do homem a assustou e ela se sentou em sua pedra e o indagou sobre quem ele era e como ele tinha conseguido sobreviver a todos os acontecimentos daquela semana. o homem explicou que tinha dado um trabalho enorme acabar com o mundo e aquele seria seu dia de descanso, uma vez que todos tinham sucumbido à exceção dela e de mais um ser de mesma espécie. a moça achou que estava sonhando, ou alucinando, ou que tinha morrido durante o tempo em que dormira. logo depois de ela pensar isso, o homem disse que estava ficando tarde e que ele precisaria descansar e foi embora. ela passou o sétimo dia inteiro pensando sobre aquele homem estranho.

ao anoitecer daquele dia, o moço veio a seu encontro. ele parecia cansado, imundo, exatamente como se tivesse enfrentado o fim do mundo nos últimos dias. ele disse que pela manhã um homem estranho o havia visitado e que ele tinha falado onde encontrá-la. ela conversou com o moço durante grande parte da noite, contaram exatamente o que o homem tinha falado anteriormente para cada um deles. ao que parecia, só restavam os dois no mundo. depois de ficarem atônitos com essa idéia, conversaram sobre como tinham sobrevivido aos dias de caos e adormeceram.

acordaram no dia seguinte com o raiar do sol, ficaram impressionados ao ver como o mundo que existia antes e fora destruído tinha desaparecido e em seu lugar havia natureza intocada. a moça com toda a ironia e indiferença que lhe era peculiar exclamou:
"ah, que maravilha, deus deixou para nós um mundo novo em folha! só falta sermos adão e eva! então me ajude a achar uma macieira, sim?"
logo depois de tal exclamação o homem reapareceu e disse para a moça e para o moço:
“tentem fazer um trabalho melhor dessa vez, por favor.”

15.5.09

sobre paciência e afins

esperar, esperar. arriscaria dizer que estou aprendendo essa milenar arte. em toda minha vida nunca soube esperar. tudo tinha que ser sempre na hora que eu queria. o que praticamente nunca acontecia, graças a pais que souberam como educar filhos sem que eles pensassem que o mundo girasse ao redor deles. apesar de tal fato aplicado a mim, jamais soube esperar por nada. esperar me cansa, me tira a vontade de fazer as coisas, me irrita profundamente, me deprime... paciência nunca foi meu forte.

no entanto, ao decorrer da minha vida, enfrentei situações as quais eu fui literalmente obrigada a esperar, suponho que algumas vezes até mais que o necessário só para me fazer aprender (ou para me irritar, quem pode saber?), todas as vezes foram dolorosas e sofríveis. logicamente não me refiro às atitudes cotidianas como esperar a hora do almoço ou o trem do metrô. falo sobre as coisas realmente importantes, mudanças, descobertas, realizações. e em todas as situações me estressei, deprimi e me fiz de criança mimada e birrenta e não quis mais, e, hipócritamente, quando as situações se realizavam me "esquecia" na hora que eu não queria mais e aproveitava tudo até o último suspiro.

o problema é que em todas as vezes o aumento de tempo de espera foi gradual. a cada situação era obrigada a esperar um pouco a mais - como se a vida fosse uma grande professora das boas que sempre lhe puxa para depois do seu limite, só pra ver se você é mesmo capaz - e conforme o tempo de espera aumentava, a tolerância ao tempo também. mas nunca sem brigas, birrinhas, "eu-quero-agora-e-se-não-me-der-não-brinco-mais", estresse e tristeza.

tenho praticamente certeza que muitas das coisas que ainda não fui capaz de realizar - e me distraí com outras empreitadas e deixei de lado - estavam prestes a acontecer e que se eu tivesse o tato de esperar um pouco a mais eu provavelmente as teria realizado. afirmo isso com tanta certeza por analisar todas as coisas que consegui e perceber que todas, sem excessão alguma, envolveram um tanto moderado de esforço, muita sorte e MUITO tempo de espera. esperei cerca de três anos para conseguir experimentar algo para saber mesmo se era o que eu queria e gostava, esperei cerca de seis anos para ter uma vaga idéia do que um relacionamento poderia vir a ser, esperei cerca de quatro anos para realizar um sonho, minha vida é toda feita de planos e de esperar que seja a hora certa para que sejam postos em prática.

apesar de ter sido obrigada a esperar por tanto tempo, sempre, não foi uma espera passiva. durante o período de "incubação" me preparei com muito afinco, para que quando chegasse a derradeira hora eu fosse capaz de aproveitar a situação do jeito que eu sempre quisera. e nunca parei de tentar até o fim das minhas forças, sejam elas físicas, psicológicas e/ou espirituais, algumas vezes não foi o tanto suficiente, mas quem nesse mundo atinge a perfeição durante a adolescência?

para variar um pouco, a vida me faz esperar novamente. re-achei meu caminho e estou trilhando por ele, mas vislumbrando como a um oásis para onde ele vai me levar. todas as peças já estão no jogo - se eu não estiver me enganando lindamente - mas agora tenho que me preparar - o que já estou fazendo - e esperar pacientemente até que tudo fique da forma que deve ser. não há nada a ser feito para catalizar a reação, somente a espera ativo-passiva durante alguns anos para que nada seja estragado no meio do caminho e que eu tenha que recomeçar - esperar muito mais.

acho que o que faz toda a diferença desta vez é o ponto de vista adotado, aceitar a espera com menos problemas e provocações, deixar as coisas acontecerem normalmente sem revolta e ânsia. se é assim que tem que ser, assim será. que venham os anos mais trabalhosos da minha vida, para depois aproveitar tudo que eu sempre quis.

12.5.09

OMG!

dels, o que está a acontecer para comigo? só sei que talvez eu seja a pessoa mais louca do mundo, mas que tá tudo legal, tá.



caralho, tá super a cada dia mais bizarro, mas eu juro que tô gostando.






em vias de sair um conto novo.
apaixonei. e assumo, em branco, mas assumo.

7.5.09

20/05/07

fiquei muito tempo sem escrever, aconteceu tudo na minha vida nesse mês. o joão é um babaca, terminei tudo com ele. ele tava todo achandinho que eu ia dar pra ele, ferrei ele também, aticei até não poder mais e não deixei ele fazer nada comigo. então, joão é passado.

lembra do meu bicho de estimação? então agora eu tenho uma chinchila. dei o nome de horácia. ela é bonita, peluda e idiota, tudo que eu queria.

ah, eu sumi porque minha mãe surtou, aí eu surtei. o médico tá me dando uns remédios tarja preta, me sinto uma delinquente juvenil e isso não tá me deixando nem um pouco constrangida, muito pelo contrário, to com um status que eu achava impossível de atingir. minha mãe surtou porque eu contei pra ela do joão, aí meu pai fez com que ela fosse ao doutor sabe tudo também. doutor sabe tudo quis até interná-la, ele viu o quanto minha mãe é paranóica. mas ela se recusou, meu pai se recusou e meu voto não contou. resultado: minha mãe surtando em casa até os remédios fazerem efeitos. e DEMOROU.

nesse mês entrou uma menina nova na escola, ela é legal e bem bonita. o nome dela é elisa. ela tá virando minha amiga, minha única amiga na escola. ela contou pra mim que gosta de meninas, e não de meninos. não sei muito bem o que esperar dela nem soube reagir quando ela me contou, mas acho que não fiz nada de errado, porque ela continuou falando comigo. é bom ter com quem conversar na escola.

a horácia é uma fofa, realmente to gostando dessa história de ter uma chinchila. minha mãe tá melhorando agora, o bom é que eu fiquei super livre nessa época que ela ficou surtada na cama. meu pai que tá apitando em casa, então eu tenho muito mais liberdade. descobri que meu pai é muito legal, ele me deixa fazer quase tudo. ele me disse que era só eu não voltar grávida ou bêbada pra casa que não tinha problema. \o/

além disso, vieram os boletins, fiquei na média em todas. melhor do que ter alguma vermelha. vou parar por aqui, o joão me deixou triste, minha mãe parou de encher, o doutor tá numa boa comigo.

tá tudo legal.

6.5.09

hiato de cu é rola

mandei aquele foda-se bem dado e joguei na mão da força maior, ela que faça o que ela sabe fazer de melhor, jogar tudo no meu colo e deixar lá até eu ser espertinha e resolver pegar.

a dona força maior vai me mostrar que raios eu tenho que fazer ou não. way to go, força maior!

só lhe digo uma coisa, querido leitor, os contos ficarão um tanto mais escassos, eles têm despendido um tempo maior de mim a cada vez que eu me proponho a escrever, tudo culpa daquela que critica como gente grande e faz com que eu melhore cada vez mais, aqui vai meu obrigada para você.

no mais, deleite-se com o que já foi publicado que em breve teremos coisas novas e um tanto interessantes para ler, se minha pretensão deixar que eu as ache interessantes.

tome cuidado com a friagem, sim?

unsent

dear lo, you were my first love, my first girlfriend, my first everything. part of me being what i am today i owe you. you were the only one who had the guts to tell me the truth and that’s why i have been loving you for all these years. i just have to thank you for being part of my life.

dear catherinne, you were my first and only true infatuation, i would die for you, i adored you the most that i could. it was really sad to make up all those lies in my mind to be able to keep on living after what i thought we had. now i see you just tried your best to not hurt me and i owe you my deepest apologies for the way i behaved after we split up, it was just to much for me to keep on seeing you always because we had some strings attached. i know i'm never gonna love anyone like i loved you. it was as sick as beautiful, what can i do?

dear lillian, you were the sweetest one for me. you had your issues, which i was not able to find any solution, it’s that i was too deeply involved into my own ones. i guess i just used you to see if i was still able to have any kind of relationship, you were so small and craving for any kind of attention, i could not help myself from being such a cunt to you. i have to admit that i used as an excuse the trip that was imposed on you to break up with no bad feelings for being such an idiot. i really owe you apologies.

dear camilla, you were my dream for a really short period of time. it was as intense as fast, i guess it was the first time that i enjoyed the present without caring too much about the next day. i really don't blame you, i would have traded myself for a car too.

dear argentinean girl, you were the most naïve platonic love i've ever had. it was just unreachable and i
knew it all the way we went through together. i guess i was craving for love and attention like a small animal. i'm glad i could overcome it and now we are really close friends.

dear susan, you broke my heart into a million pieces and then got a really big truck and ran over it laughing a wicked laugh. i really don't blame you, i was way too much indulgent towards you. you just got it and used it in your own behalf, and you broke me by doing this. i really believed you and you lied to me like you did to your mommy. maybe i'll never be able to really trust anyone on account of you. thanks for being kind to me during all the time we were together, but i guess you really put your foot in your mouth, cause it all went real wrong and you managed to hurt me like no one else ever could.

dear anna, i was willing to give you all the love i could, i really could make you happy as it had never been done before towards you, but you simply chose not to, and i admire you and respect you for that. i think we can be real good friends, i just must understand all this flow that goes through my body when i am near you and stop believing that for once you're gonna do what's best for you.

dear samantha, you are rocking my world and my point of views. i am not sure if you are being sincere or just fooling me around, but i guess it really doesn't matter now, all of these people had already done it before, so i will allow you to do it, if that's what you are meant to. you are being able to heal little by little all the shit that had been done to me and i admire you for that, even if you are not what you say you are. i am beginning to develop a great caring towards you and you have the power to make me think i really can reach what i intend to. so, if you are just an illusion, keep on being that till somebody else is able to take your place, cause i am starting to get up and walk again. i just have to thank you for whether being true or unfaithful.



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the names have been changed to preserve the integrity of the ones who are in this version of this alanis' song.