25.3.09

rei mierdas

nasci com uma maldição! ela age em tudo que eu toco, em tudo que eu quero, em todos que eu prezo... se virasse ouro, estaria tudo bem, mas vira merda. não a merda literal, como a fábula do rei midas, mas dá praticamente na mesma, já que não tem como fugir dela.

você pode até pensar que eu estou sendo super enfático e dramático, mas não, vou lhe contar minha história para que você possa entender a dimensão da merda. tudo começou antes da minha concepção. nasci de uma broxada. agora você se pergunta, como assim nasceu de uma broxada? pois é, meu amigo, nasci de uma broxada. e foi por isso que meu pai largou minha mãe na rua comigo sendo formado na barriga dela. é que ele percebeu que ele broxou, mas alguém completou o "serviço". minha mãe não ficou sem casa, mas logo ao me conceber já deu merda: perdeu o marido, a dignidade e a vida confortável que ela levava.

no dia do meu nascimento também deu merda. minha mãe estava sem dinheiro algum, não tinha carro e chamou a ambulância. demorou quase uma hora para ela chegar, quando os paramédicos finalmente chegaram, a colocaram na maca e foram muito rápido para o hospital, como é a minha vida, não deu tempo. nasci na ambulância mesmo, mas a merda fatal foi que escorreguei da mão do paramédico que estava me segurando numa curva que foi feita muito rapidamente. eu ainda estava todo melecado e escorregadio, minha mãe falou que eu deslizei até a porta da ambulância como um pedaço de salmão cru melecado com lubrificante anal escorregando pelo chão de um restaurante japonês porque alguém não sabia usar hashi.

meu primeiro aniversário também deu merda. na hora do parabéns, a inteligentíssima pessoa que minha mãe é começou a pular comigo no colo dela embalada pela música e me deixou cair de cara no bolo com a vela acesa. queimei a testa, tenho a cicatriz até hoje. na verdade, é melhor que eu pare de falar de aniversários, tenho lembranças muito ruins com eles.

a primeira vez que fui andar de bicicleta sem as rodinhas de apoio, imagina a merda que deu? minha mãe, meus primos, todos lá me incentivando, me enchi de coragem e fui. estava na rua de terra que ficava em frente à minha casa, dei impulso, pedalei, tudo parecia ir bem, até que uma pedra apareceu no meio do caminho, perdi o controle da bicicleta e caí de cara num montinho de esterco que alguém ia usar de adubo, tinha chovido, imagina que beleza, esterco molhado. caí de cara na merda. essas coisas só acontecem comigo.

não que não aconteçam merdas nas vidas alheias, mas comigo é sempre. só mostrei alguns casos da infância, mas a medida que eu fui crescendo, as coisas foram piorando. não sei o que eu fiz pra merecer a vida que eu tenho, me incomoda muito o fato de eu ser tão azarado assim. não se pode nem chamar de azar, é quase como um midas mesmo. já tentei me matar, mas deu merda, e eu prefiro nem comentar isso aqui... só sei que não procuro mais ajuda desde que o consultório da psicóloga pegou fogo após minha primeira sessão e que a senhora que ia me benzer morreu de ataque cardíaco fulminante quando ela começou a tentar tirar as "coisas ruins" de mim. sinto culpa por isso todos os dias.

minha primeira transa não foi. é, não foi porque puxei ao meu pai e broxei. às vezes o rosto e o semblante de desapontamento da menina aparece quando estou no escuro. fiquei realmente atordoado com isso. só consegui fazer as coisas funcionarem direito depois de ajuda profissional. e digo que não foi fácil e que também deu merda. ela fez um preço no começo, depois que viu o trabalho que deu, ela aumentou o preço e levou meu relógio como garantia que eu pagaria o resto. pelo menos foi um dinheiro bem gasto.

meu primeiro emprego também deu merda. trabalhava numa metalúrgica, uma máquina ficou louca e engoliu meu dedo médio. engoliu, assim, sem mais nem menos. minha mão esquerda é estranha por causa disso. isso limitou muito minha capacidade para empregos, nunca pude ser digitador, sempre perdia para os outros candidatos. mas meus empregos sempre foram ruins, sempre deu merda.

vou parar por aqui, minha vida só dá merda mesmo, vou parar de lhe contar sobre a ela antes que dê merda de novo. daí você vai achar super chato, o papel vai pegar fogo, vai que o mundo acaba... não é à toa que todos que são corajosos de conviver comigo me chamam de rei "mierdas".

2 comentários:

Carola disse...

Mto boa Jô!!!!
uhauhauhauah!!!

Sabrine disse...

Esse conto eh maravilhoso de legal!!
Nojento, mas mto bom!!