18.3.09

a carta

"queria ser importante, sabe? não um importante geral e tal, mas importante para você. queria que você me desse valor, que você visse o quanto eu sou certa para você. queria que parasse de frescura por aí, você sabe o que você quer, para que ficar com bixisse para assumir as coisas? eu faria qualquer coisa por você, e talvez seja isso que acabe com as minhas chances, você gosta de ser pisado, e eu não sei pisar nas pessoas, não sei ser egoísta, sou exatamente o oposto de tudo que você gosta. não sou bonita, não sou extremamente fútil, não tenho talento para ser sacana... por que me interessei por você, para começar a história? e por que eu estou escrevendo essa carta, já que eu nunca vou lhe entregá-la, muito menos falar sobre isso com você? aliás, não sei se vou mais falar com você, cansei dessa situação, de você estar em cima do muro e não fazer nada porque tem medo que possa se prejudicar.

por mais que eu quisesse e ainda queira fazer parte da sua vida, ser quem você quer ver todos os dias, ser a última coisa que você pensa ao adormecer, de algum jeito isso parece extremamente surreal, fora da realidade e extremamente sonhador. não tenho mais treze anos nem nunca cheguei a ser apaixonada de verdade por você, mas a sua falta de coragem só me demonstrou o quanto você ainda não está maduro e pronto para um relacionamento decente, um no qual tenha respeito mútuo acima de tudo. definitivamente, alguém que não tem coragem não está pronto para esse tipo de coisa. o que eu me pergunto é o porquê de ter me interessado por você se você só tem a ganhar, eu a ensiná-lo sem ganhar quase nada além da sua companhia para dormir. não é uma equação muito boa, pelo menos para mim, sabe?

sério, você é otário e burro por não perceber isso: o velho e seguro não é tão seguro assim, na verdade, não é seguro de forma alguma e você sabe disso. por que ficar fazendo isso, então? tudo isso é medo de arriscar? definitivamente você não está pronto para mim, enquanto eu já estou mais que pronta para você. não vou lhe esperar, tenho mais o que fazer, já passei da fase de acreditar em algo que não vai acontecer."

ela segurava essa carta na mão enquanto atravessava a rua desatenta. um carro, vindo em direção ao semáforo que estava fechado não conseguiu frear a tempo e a atingiu. não foi nada de grave, só a derrubou no chão como quando se tropeça, mas a carta saiu voando de sua mão. ela levantou, o motorista saiu do carro, todos viram que estava tudo bem e seguiram suas vidas. logo depois de chegar à calçada no outro lado da rua, ela se lembrou da carta que segurara nas mãos, como ela não tinha pretensão alguma de entregá-la, deixou estar.

uma meia horda depois, uma adolescente com tênis de skatista, calças largas, regata masculina e boné achou a carta. a leu e pensou que tais palavras provinham de uma mulher trintona, de tpm e no inferno astral. mas ela resolveu guardá-la, aliás, não é todo dia que se encontra uma carta com uma letra tão bonita e despretensiosa.

alguns anos depois ela se deparou com aquela letra novamente, mas a letra estava em uma carta de amor de sua namorada para ela. ela não acreditou muito quando viu pela primeira vez e, logo ao chegar em casa, resolveu procurar a carta para comparar as letras. era a mesma letra bonita e despretensiosa da carta que ela encontrara na calçada anos atrás. ficou um tanto encabulada com a situação e resolveu falar com sua namorada para perguntar o que havia acontecido, já que essa pergunta sempre martelava sua cabeça quando se deparava com a carta.

na próxima vez que viu sua namorada, ela lhe estendeu a mão com um papel que parecia não ter sido muito bem cuidado ao longo dos anos e disse "acho que isso pertence a você, achei há alguns anos no meio da rua.", a namorada pegou o papel e ficou extremamente surpresa por olhar para aquela carta novamente, não sabia o que dizer, não teve reação alguma, ficou simplesmente estática. vendo a reação que sua namorada teve, ela falou para ela "sabe, eu sempre quis saber quem a pessoa que escreveu essa carta era. pensava que era uma trintona com tmp e mal amada, sabe? mas agora consigo entender a magnitude do que você quis dizer com essa carta e lhe admiro mais ainda por isso.".

elas ficaram juntas por bastante tempo, até um dia que ela estava atravessando a rua olhando fixamente para sua namorada parada do outro lado da rua e foi atropelada e morreu na hora. a namorada seguiu a vida, escrevendo cartas para todas as pessoas, algumas vezes até as deixando pela rua, no chão mesmo, para ver se ela conseguia que o acaso ou a sorte grande a fortunasse novamente.

4 comentários:

Kitsune disse...

Nossa, que linda e triste essa história.
Meu, você com certeza poderia escrever um livro legal.

Te adoro, garota :)

Fer Martins disse...

Bonito. Real.

p! disse...

*____*

que lindo, jô...

Unknown disse...

Nossa lindoo demaiss!
parabéns! ;*