3.2.10

ensaio sobre a monotonia

eu deveria ter muito a dizer, mas nem tenho. eu tenho muito o que fazer, mas não faço. eu deveria ter os horários certos, mas não tenho. eu deveria ser brilhante, mas não sou. e eu poderia continuar indo com essa linha estúpida de pensamento adversativa por horas e horas e horas, mas não continuarei.

você deve estar se perguntando o que é esse tipo de coisa, quem sou eu e todas essas perguntas idiotas que as pessoas se fazem. eu poderia responder que eu sou o tudo e o nada, que essa coisa estranha sou eu e responder as suas perguntas da maneira que eu achasse mais engraçada. aí eu me pergunto: pra que?! pra provar que eu sou mais esperta que você? não, não preciso disso. tem coisas que não são necessárias que sejam provadas. aí você está pensando: "quem você acha que é pra dizer ser mais esperta que eu?", por eu ter descoberto o pensamento já se prova, perdão. se não era isso que você estava pensando, eu ainda sou mais esperta que você, pode ir tirando esse sorrisinho do rosto. eu sei que você está sorrindo. ôpa, agora parou. eu poderia dizer que estou me divertindo com isso, mas, sabe, é tudo tão previsível que perde a graça.

agora você deve estar achando que eu sou algum tipo de médium ou uma dessas pessoas que descobre o que as outras querem ou outras coisas, esse tipo que só existe em seriados americanos chatos. eu assisto a todos eles, mas eles continuam sendo chatos e previsíveis. como você, a minha mãe, minha melhor amiga... é tudo muito previsível. a vida em si é previsível. você nasce, cresce, enfrenta problemas existenciais, resolve alguns deles, se casa, tem mais problemas existenciais e alguns conjugais, tenta resolvê-los, não consegue e morre frustrado. tudo bem, eu sei que você acha que eu sou negativista. eu diria diferente, entretanto, sou realista. melhor do que se esconder num mundo de faz de conta igual a umas pessoas por aí. e por umas pessoas eu estou sendo bem generosa, quase todo mundo faz isso. é mais fácil se esconder a encarar a realidade medíocre em que todos somos obrigados a viver.

um dia desses eu encontrei alguém que eu achei que fosse imprevisível. depois de três dias de conversa eu vi que era mais previsível que a maioria, a única diferença é que essa pessoa se escondia mais do que os outros por ser mais problemática. bom, demorou três dias, eu costumo saber o perfil da pessoa em uma hora, mais ou menos. geralmente menos, mas se eu falasse que é só bater o olho em alguém e eu já saber qual é a da pessoa você iria me achar arrogante, e eu realmente não quero ter a imagem de arrogante. mas aquela pessoa me entreteu um pouco.

o fato é que é tudo tão previsível e todo mundo tem sempre o mesmo: os mesmos problemas, os mesmos traumas, os mesmos tudo... por tudo ser assim eu diria que a vida é muito... chata. você não tem ideia de como é chato olhar pra alguém e já saber o que essa pessoa vai fazer, vai querer, vai falar, como vai se sentir. tudo bem, não é sempre, às vezes elas me surpreendem, mas nem fica mais interessante por isso. geralmente esses rompentes são mínimos e são a segunda opção de presibilidade. sabe, quando existem duas opções e se escolhe por uma e acaba acontecendo a segunda? o que os torna quase tão chatos quanto as outras ações.

se você for pedante ou arrogante - ou os dois - aposto que está pensando que você não seria um objeto de pesquisa tão monótono. pelo menos você se esforçaria, e no seu esforço seria tão igual a todos os outros que tentam impressionar. desculpe. tudo se encaixa em padrões, esse é só mais um desses. não me entenda mal, até eu tenho meus padrões. são um pouco diferentes da maioria, mas são bem fáceis de serem identificados. tudo é chato e monótono, até eu. e não adianta, por mais que eu tente eu nunca conseguirei me impressionar comigo. tudo bem, isso é estúpido de se dizer, mas vai me falar que você nunca se impressionou consigo próprio? uma ação que você não esperava que faria? um sentimento que você jurou por tudo que jamais teria? acontece, não é sempre, mas acontece. comigo nunca acontece. eu sou sempre a mesma. e mesmo que eu mude, são mudanças já previstas.

tem gente que acha que eu sou médium, mãe dinah, cartomante, mãe de santo... eu só sou observadora, eu observo as coisas, sempre observei, desde criança. a culpa não é minha que não existam muitos padrões comportamentais. eu poderia ser serial killer ou alguém que caça serial killers, mas, ah, seria chato. sempre a mesma coisa: sujeito agressivo abusado quando criança ou não agressivo abusado quando criança. abuso infantil pode realmente ferrar mentes, tome conta dos seus filhos.

o que fica chato é que é tudo muito monótono. eu sei falar para qualquer pessoa o que ela quer ouvir, fazer o que ela quer que eu faça, só pra fazê-la feliz. ou eu posso também fazer qualquer pessoa fazer qualquer coisa que eu queira sem que ela perceba que eu estou indicando fortemente isso. mas, ah, é tão chato quanto todo resto...

minha coisa com a vida é que ela é monótona. são sempre as mesmas coisas, pessoas psicologicamente ferradas por causa de amor, ou então por causa de raiva, ou então porque elas não são felizes em como elas são e não tem a aprovação necessária. mas o que eu já adianto é que não tem ninguém sem problema psicológico algum. todo mundo é ferrado de alguma forma. e tudo tem a ver com amor/rejeição. eu duvido que você apareça com algum problema psicológico vindo de algo que não tenha a ver com uma dessas duas emoções. podemos discutir por alguns minutos e vamos lapidar o problema até chegar a uma dessas duas causas. é sempre assim, acredite em mim.

eu poderia ficar falando disso por horas e horas, mas seria tão chato quanto não ficar falando sobre isso com você. então eu acho que eu vou dormir. pelo menos na monotonia dos meus sonhos eu posso ganhar uma medalha numa olimpíada ou construir um tênis voador. agora, pra ser sincera, se alguém conseguisse construir um tênis voador eu ficaria surpresa.

4 comentários:

Kitsune disse...

hahahaha!
adorei o texto.

e aposto que ainda consigo um tenis voador pra esfregar na sua cara.

mas sério agora, isso que vc escreveu faz todo o sentido. O meu lance com a vida é esse também, nada mais é novo, nada mais atrai...tá tudo se transformando numa única e compacta massa de monotonia. Você não sabe onde começam as novidades e onde terminam as velhas notícias, pois é tudo a mesma coisa.

Carola disse...

adoro as filosofias da Jô!
E vou aproveitar pra filosofar também.
Jô você já conheceu alguém que para não ter problemas os esquece, apaga da memória e fazendo isso não tem mais problemas?
Prazer, Ana Carolina lezada, chapada esquecida e feliz.

Concordo que tudo é muito previsivel. Mas e previsivel por que as pessoas insistem em ficar 80% do seu dia pensando nos mesmo problemas.

Os problemas é que se fodam, eu estou viva cheia de energia pra gastar (quem me dera se minha energia se transforma se em dinheiro e inteligencia) :D

Agradeço ao seu depoimento de final de ano lá no meu blog.
Você me ajudou a enxergar que realmente não foi um ano perdido, foi um ano apenas triste mas com aprendizado muito grande :)

Esse ano eu prometo ter menos posts de reclamação de vida, tanto que o blog reclamão já esta fora do ar e fiz um novo.

Ano novo, vida nova e tomara que o blog novo me dê sorte!

Quero te mostrar meus videos da viagem, as fotos e tudo mais!!!

Feliz ano novo de novo!!!
Que em 2010 você nos divirta muito com seus textos, pensamentos e filosofias!!!

Beijão Jô

Aline Inforsato disse...

Eu precisaria de muita maconha pra conseguir escrever assim....

e de muita maconha pra pensar num tenis voador tbm. =B

cowy disse...

galere, é conto. não sou eu falando nada disso. olha a tag.


duh!