escrever é como vomitar ou fazer cocô, algo bem orgânico mesmo. quanto mais você tenta, mais aflição dá e menos sai. aí você se estressa e começa a ficar puto porque você não conseguiu escrever e você está precisando escrever. e você tenta de todas as formas, deita na cama, senta, fica em pé, liga música, desliga a música, liga a tv, desliga a tv, vai até a cozinha ver se acha inspiração no armário das porcarias ou na geladeira, volta para o lugar de escrever tão abastecido quanto alguém num abrigo anti-radiação no seu primeiro dia de utilização, senta, coloca as mãos para trabalhar e... nada.
quando consegue um parágrafo aceitável, pára no meio da escrita para não cagar uma idéia que pode originar algo bom. aí vem a culpa por não estar conseguindo produzir da forma que gostaria de estar fazendo, logo depois da culpa vem o desespero. o desespero é a forma mais sacana de se sentir quando não consegue escrever algo. o escritor começa a pensar que perdeu o jeito da escrita, se cobra pela quantidade de tempo que está sem escrever nada decente, começa um monte de coisas e não termina nenhuma porque acha que está tudo muito ruim (o que realmente está). vira uma necessidade praticamente física escrever algo digno de ser lido por alguém que não seja sua própria mãe, só para que consiga provar pra si mesmo que ainda é capaz. é desesperador.
depois do desespero vem a raiva. dá uma vontade cabulosa de quebrar o monitor, o teclado, rasgar o papel, quebrar a caneta em pedacinhos... mas um escritor não faz isso, um escritor zela pelo seu instrumento de contato intelectual com o mundo, quebra tudo em volta, menos a caneta e o papel (ou o monitor e o teclado.)
tem também os momentos de nada. você se distrai com um coceira no joelho e esquece sobre o que estava escrevendo, qual era sua intenção com a frase não terminada e fica puto lendo e relendo tudo que já escreveu só pra ver se consegue voltar à mesma linha de pensamento. e não, não consegue. porque quando se precisa escrever e as idéias não vem é exatamente como ter muita vontade de cagar e não conseguir. é aniquilador. daí você não consegue mais ficar sentado na privada, ou tem algum compromisso e tem que deixar pra depois. passa o dia inteiro com uma vontade imensa de cagar. isso aplicado à necessidade de escrever e não conseguir é um pouco mais sutil, mas o efeito de alguns dias tentando dá exatamente a mesma sensação. deseperador.
aí, quando o escritor vê que não vai sair nada mesmo, ele tenta deixar de lado, sabe aquela coisa de "se eu não penso sobre algo, essa coisa automaticamente deixa de existir"? é, funciona por alguns dias, mas não passam de dois ou três. aí você começa a reparar o quanto você produzia bem no passado e começa a reler o monte de coisas legais que já escreveu. auto-tortura. também é uma fase para se tentar superar a falta de inspiração, trava, hiato ou seja lá o nome que se dá pra isso.
o problema é que quanto mais se cobra, menos inspiração vem. aí você se fode redondamente. o jeito que eu achei pra superar isso descobri na quinta série e está sendo aplicado à esse amontoado de linhas neste exato momento. como fui bem-sucedida na primeira vez, estou apelando de novo. sim, apelando mesmo, porque eu estou realmente MUITO incomodada com o fato de eu ter uma crônica e dois contos meio começados e não estar conseguindo escrever nada decente.
fui bem-sucedida quando estava na quinta série tinha um professor de português chamado geraldo. ele era um professor dos mais rígidos e incríveis que eu já tive, me lembro claramente de aprender a palavra "contemplar" e toda a imensidão que ela trás por ele, lembro também de vê-lo num monólogo sobre suicídio e a opinião dele sobre tal fato, depois de uma semana o vi na missa de igreja católica que fui obrigada a ir pela minha família - porque era missa de sétimo dia da morte de uma tia minha que não fez diferença alguma na minha vida e que passei a achar muito chata depois de ser forçada a ir na missa da morte dela (já não bastava morrer no dia do meu aniversário e estragar a festa, ainda fui obrigada a ir à igreja, lugar este que me sinto realmente mal) - e a opinião dele sobre suicídio foi lindamente ofuscada pela crença dele na igreja católica. geraldo, uma vez, mandou que escrevêssemos uma redação com tema livre, como ele era rígido, não poderia entregar a tal redação depois da data estipulada. travei, sempre odiei tema livre. escrevi minha redação sobre como era difícil escrever com tema livre porque a palavra livre aplicada juntamente com a palavra tema dava inúmeras opções de escolha e isso acarretava em deixar algum tema bom de fora e todas essas coisas que alguém escreve quando trava. ele gostou da redação, pediu que eu lêsse para os coleguinhas e tirei a nota máxima. eu saí por cima de uma situação que me deu tanto desespero quanto a que estou agora. estou apelando mesmo, porque para eu lembrar de uma situação da minha infância/pré-adolescência como meio de superar algum problema de agora é realmente apelativo e sinal de desespero (visto que minha memória é algo praticamente inexistente).
só espero que me saia tão bem dessa vez quanto me saí quando tinha dez anos.
1.7.09
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8 comentários:
Adoro gente que compara cagar com qqr outro ato análogo, tipo escrever ou até mesmo viver.
aí vem o desespero, machucando o coração...eu me entrego por inteiro, implorando o teu perdão.
PORRA! O vinni chegou na minha frente. eu ia comentar E-X-A-T-A-M-E-N-T-E o que ele comentou.. bolas
Meuooo, escreve aquele conto sobre as meias, a calcinha e o top.
quem sabe vc não destrava...?
Acho vc hilária!Bjs
Eu ri do "Visto que minha memória é uma coisa quase inexistente."
shaushaush
=***
oi Jô!!!
vc tah bem?? tou pensando em vc desde ontem meo...
preciso te ver... preciso mto!!
enton, por ake no trampo td blz... tou pegando o jeito irmã... tou pegando o jeito.
te amo mto.
não esqueça disso.
se der td certo meu pc chega nesse findi...ou até o final do ano...
Beijos!
Tenta uma cerveja. Tive um professor na faculdade que sempre dizia pra gente ir bêbado na aula dele, porque bêbado a gente tem mais idéias. Nunca pude comprovar isto porque eu não bebo, mas, tentaí...!!!
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