parte um
a sala estava preparada: duas poltronas; uma mais alta e trabalhada que a outra; uma mesinha entalhada de carvalho no centro; a luz era um tanto escassa, vindo somente de velas ladeando as paredes, o que dava à sala um toque de obscuridade esperado de tal ambiente; nas paredes havia quadros dos maiores nomes da pintura, incluindo o retrato de dorian gray original, antes de ser totalmente deformado; um grande e trabalhado tapete persa por baixo de todas as coisas dava um toque real à decoração da sala, duas taças jaziam sobre a mesa à espera de pessoas.
um homem foi levado para dentro da sala. um pouco assustado pelo lugar em que estava, mas se sentou, postou no colo a mala que carregava, a abriu e dela retirou um gravador de voz - que foi colocado por sobre a mesa de carvalho - e um bloco de anotações - que ficou em suas mãos -, a mala foi colocada ao lado da poltrona e ele ficou esperando. o mesmo ser um tanto estranho que o tinha levado para a sala o serviu com sua bebida favorita. estava tudo pronto. foi pedido que ele aguardasse, a entrevista se iniciaria em alguns minutos.
um súdito foi avisar ao mais superior dos habitantes daquela dimensão que o repórter havia chegado. ele agradeceu ao súdito e continuou cortando as unhas do pé. "é bom que ele pense que eu estou ocupado", pensou, afinal ele era o ser mais temido daquela e de outras dimensões, deveria fazer jus à imagem alheia sobre ele. terminou de cortar as unhas, as olhou por alguns segundos e exclamou: "nem deus teria feito melhor!". colocou os sapatos e foi para frente do espelho montar a imagem que deveria ter aos olhos dos povos aos quais o repórter representava. enquanto colocava os adornos pensou: "ah, isso me cansa. por que eles têm que ser tão míticos e fazer imagens do que eu tenho que me parecer?". ao terminar a produção deu uma última olhada em direção ao espelho para ver se não havia esquecido de qualquer detalhe, esquecer algo seria imperdoável para alguém em sua posição. checou os minutos, "meia hora era um bom tempo de chá de cadeira." ele pensou, suspirou fundo e saiu de seu aposento.
antes de entrar na sala preparada para a entrevista ajustou impacientemente os controles para os efeitos de fogo e som, esses detalhes o estavam irritando mais do que o habitual, era evidente para ele que já estava cansando daquela vida. ao terminar de configurar a intensidade de luz e música olhou em volta. um súdito o fitava com ar de compaixão e admiração. ao notar o olhar do rapaz retomou sua altivez digna de ser o maior e melhor daquele castelo. checou novamente os controles, estava tudo pronto. colocou-se ante à porta, sua postura chegara ao máximo de altivez e respeito que era possível, a mesma altivez que o colocou na posição hierárquica que ocupava. pôs a mão na maçaneta e abriu a porta.
logo que a grande porta ricamente trabalhada e envernizada se distanciou do batente houve um show de luzes; a chama das velas ficaram mais fortes, bruxelavam graciosamente e emanavam luz jamais imaginável ser provinda de velas e não holofotes vermelhos e amarelos; violinos e violoncelos começaram a tocar numa virtuosa composição clássica e grave, que nunca fora ouvida fora daquela sala, como se aquela área tivesse sido composta somente para aquela ocasião.
o repórter se encolheu na poltrona ao ver o tamanho do ser que adentrara a sala. era muito alto, forte, com postura imponente como a de um rei, vestido com um manto de veludo vermelho com detalhes pretos e prateados que seria digno de um papa e trajava, também, calças que não eram muito chamativas. mas o aspecto amedrontador não vinha das roupas que usava, vinha de sua postura intimidadora como a de alguém que com um aceno simples de uma das mãos é capaz de condenar alguém à morte.
o repórter fez menção em se levantar quando ele se aproximou da poltorna em que estava sentado, mas ele simplesmente olhou para o repórter com um olhar de piedade e se sentou em sua poltrona. no mesmo instante, um vassalo lhe serviu alguma bebida viscosa em sua taça. bebeu um gole, com um aceno fez a luz voltar ao normal e a música ficar num volume agradável até mesmo para uma conversa entre reis. ele olhou novamente para o repórter, dessa vez com um pouco menos de piedade, e disse:
"estou aqui, a entrevista pode começar."
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continua em: a entrevista parte II
3 comentários:
Fantástico!
Fez eu me sentir dentro da própria sala.
uhu!
qnd vem a segunda parte??
Me senti dentro da sala [2]
Oh gatan, tá foda falar com vc hein? Vê se atende o telefone ou responde torpedos pelo menos ¬¬'
Lov u
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