"é dia vinte e quatro e eu nem montei minha árvore! minha mãe ficaria tão desapontada se visse a falta de tradição e espírito natalino..."
ela olhou a sua volta, viu luzes piscantes nas sacadas dos prédios ao lado, papai noel, rena, estrela... sempre a mesma coisa.
no meio tempo um senhor lá pelos cinquenta anos estava se preparando para sair.
ele afivelou seu cinto, checou os afazeres, olhou em volta para ver se não esquecia de nada, tudo estava em ordem. pegou sua bolsa e saiu porta afora, não nevava, não estava calor, era um tempo úmido, sem sol e sem graça. ele olhou para o céu como quem desafiasse as nuvens cinza claro, não queria que chovesse mas gostava do sol tampouco. qualquer das combinações de chuva ou sol estragaria seu humor.
pegou seu carro e dirigiu por aí, sem destino qualquer. sentia-se desconfortável em casa, sentia-se desconfortável em trânsito. a situação toda o deixava descomunalmente incomodado. parou o carro num cinema e desceu, ficou olhando o painel para ver se tinha algum filme decente o suficiente para o entreter por algumas horas. quando chegou à bilheteria, a mocinha o informou: "desculpe, senhor, mas nós estamos fechando para o natal. não haverá mais sessões hoje.". ele fitou em volta com o olhar distante numa mistura de melancolia com solidão.
enquanto isso ela preparava seu cachorro para dar uma volta, pegou saquinhos para os cocôs, a pazinha para pegá-los, colocou na bolsa um guarda-chuva e uma capa de chuva para o cachorro. "nunca se sabe sobre esse tempo..." pensava ao guardar as coisas em sua bolsa. quando o cachorro notou que iria sair do cubículo do apartamento em que morava ficou todo feliz e rebolante, como só cachorros que moram em apartamentos sabem ser quando veem a coleira em sua direção.
saíram e começaram a dar a volta típica com o cachorro em volta do quarteirão. quando passavam em frente ao cinema, o cachorro conseguiu se soltar, e saiu correndo em direção a um homem não tão jovem que parecia estar com o olhar perdido no meio dos prédios e galerias. pulou nele, abanando o rabo como se fossem amigos de longa data. ela veio correndo logo atrás se desculpando. ele, que foi tirado de sua introspecção involuntariamente, não parecia aborrecido e afagava a cabeça do cachorro enquanto ela vinha a toda velocidade em sua direção.
"belo cachorro esse!" ele disse querendo dizer que não havia motivo qualquer para que ela pedisse desculpas. ela deu um sorriso educado e casual, abaixou-se e prendeu o cachorro novamente. enquanto ele brincava com o cachorro ela disse "tempo estranho esse, não? não chove, não faz sol..." ele concordou "é mesmo, esse tempo é uma loucura... sabia que meu filho tem um cachorro da mesma raça?", depois da típica conversa de um minuto e meio sobre o tempo e coisas banais ela continuou passeando com o cachorro e ele entrou em seu carro.
ela voltou para casa, tomou banho, ligou a tv e pôs a comida congelada no microondas para a ceia. "minha mãe me odiaria hoje, se ela estivesse viva. cadê o espírito natalino?". comeu a lasanha um tanto sem sabor assistindo a um filme sobre natal e pessoas felizes na tv.
ele, dentro de seu carro, ligou para seu filho. desejou feliz natal e disse que ganharia um presente muito incrível que ele vinha preparando há meses. o menino ficou curioso para saber o que era, mas seu pai disse que o natal era somente no dia seguinte e seria este o dia em que ele ganharia seu presente. logo após desligar o telefone, ele deu partida no carro e dirigiu até um lugar um tanto afastado. lá, ele tirou o cinto de segurança e aumentou a velocidade do carro de forma tremenda, quando o carro atingiu seu máximo, ele mirou em um poste, batendo drasticamente de frente. o carro ficou destruído, ele morreu, o poste caiu e a transmissão de energia foi interrompida para toda a cidade.
quando o filme estava chegando ao final, a luz acabou. ela ficou chateada por não poder ver o fim do filme e foi dormir deprimida por não ter mais a vida bonita que os filmes mostram.
no dia seguinte, o menino recebeu uma ligação da polícia e outra da empresa de seguros. a polícia dizia que seu pai morrera em um acidente de trânsito, a empresa de seguros disse que ele ganhara alguns milhões de reais por conta da apólice de seguro de vida de seu pai.
24.12.09
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
A parte da falta de energia eu manjo!
Postar um comentário