"tenho problemas para dormir e problemas para acordar. é que quando eu estou dormindo, tudo que é real está latente e inoperante, é o único conforto que tenho tido ultimamente. não tenho amigos, não tenho romances, a única fonte de amor que eu tenho será retirada de mim logo. como eu sei isso? oras, associação. cada vez que eu afirmei com veemência que não tinha mais nada a perder, um tipo de coisa que eu tinha que considerava virtualmente parte de mim foi tirado. então, por eliminação eles são os próximos.
nunca disse a meus pais o quanto eles são importantes e o quanto eles me transformaram no tipo de ser humano que eu tento ser. não sou, admito, mas ao menos tento ser. minha mãe me ensinou a pensar, criticar, questionar, ser independente, ter minhas próprias escolhas com base nos meus próprios princípios e brios, me estimulou a ter um mínimo padrão de moral o qual retirado de mim me tornaria uma pessoa mais desprezível que o pior dos seres humanos. meu pai me ensinou a ter responsabilidade, me ensinou a enxergar como as coisas são ou deveriam ser, a ser persistente, abdicar de coisas que poderiam me fazer ter status ou mais felicidade instantânea por um bem maior e me ensinou que nada na vida vem de forma fácil, me mostrou sempre que eu normalmente teria que lutar para conseguir qualquer coisa que eu quisesse durante o período em que estivesse viva. resumindo, meus pais me ajudaram a formar minha personalidade e meu caráter. eles sempre foram uma boa equipe, cada um de seu jeito, logicamente, minha mãe sempre foi a extrovertida, quem sempre soube falar a coisa certa na hora certa para você continuar indo em frente e meu pai sempre esteve como um porto seguro, a âncora de tudo, estabilizando toda e qualquer situação, dando a impressão de que não importasse o que acontecesse, ele sempre estaria lá para fazer as coisas funcionarem de novo. eles também me ensinaram a me defender de todos de modo não tão convencionais: eles são tão irônicos e sarcásticos que além de me ensinarem a ter resposta para todas as ofensas e saber lidar com as mais diversas situações complexas e desagradáveis, os métodos não tão normais, digamos, me ajudaram a desenvolver um raciocínio rápido e sagaz para respostas que não dão vazão a tréplicas que foi devidamente posto em prática durante a adolescência. e hoje tive o desprazer de descobrir que eu só posso contar realmente com eles para qualquer situação que possa vir a se apresentar em minha vida. nunca os agradeci propriamente por isso, então lá vai: obrigada, pai. obrigada, mãe. ter vocês por perto é a única coisa que tem me mantido um pouco sã.
apesar disso, eles não podem fazer nada por mim agora, como ninguém mais no mundo pode. tenho que reaprender a viver, reaprender a ter uma visão específica das coisas mundandas, redescobrir como fazer para conseguir as coisas que eu quero, redesenhar todo o prospecto de vida que eu tive até hoje e discernir a realidade e passar a entender esse novo ponto de vista tão absurdo que se instaurou em mim. é um caminho sem volta, então tenho que aprender a viver com ele antes que seja tarde e eu seja internada em uma clínica psicológica ou tenha que tomar barbitúricos para não começar a ver gente que não existe ou ter acessos psicóticos perigosos.
e não, não quero sua sugestão para a melhor forma de viver minha vida. estou lhe retirando esse direito, vá viver a sua própria e faça bom proveito dela. e não me venha com suas conclusões, não me estenda sua mão. quando eu mais precisei você não o fez, e tinha dito anteriormente que faria. abdico de sua amizade e lhe privo do que eu poderia lhe proporcionar.
abdico de meus sonhos, de minhas ambições, de minhas preferências, abdico de minha vida como um todo. talvez eu consiga vir a formar uma nova, a qual você não fará parte. desculpe se isso tudo soa muito hostil, mas retribuo da forma em que fui tratada durante todo esse tempo. não quero mais você por perto.
não há necessidade de despedir-me de forma hipócritamente falsa e gentil.
espero nunca mais saber de você."
ao mesmo tempo que a carta foi entregue pelo correio o telefone tocou informando que houvera um acidente e que ambos ocupantes do veículo haviam falecido instantaneamente. quanto a ela: enlouqueceu de vez, não tinha mais o porto seguro em casa. virou moradora de ruas e por elas vagou pedindo dinheiro para comer, fedia mais que um gambá, tinha seis amigos imaginários, cinco, na verdade, porque um deles era muito má pessoa e vivia falando coisas erradas dela pelos cantos.
ela nunca sentiu falta de ninguém, sua vida que já estava por um fio acabara de vez com o tocar do telefone daquele dia. ela era uma morta-viva, sem nenhuma razão ou ambição para viver e era feliz assim.
esse conto é meramente fictício, qualquer associação a um conhecido é problema seu e não foi intenção da escritora fazê-lo.
31.8.09
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8 comentários:
O_O
me perdi...
mas muito bom, Jô! :]
Só não sei o que é verdade e o que é mentira, mas tudo bem!
:***
mentira = fictício
Fantástico apesar do contexto.
fictício.
aham claudia, senta lá.
pensa que me engana.
hummmm...
mto bom!!
amo vc!!
Beijo!
prometo q vou ler tudinho até o fim do dia. entao farei um comentario decente.
Beijos
de fato alguma coisa fez com que eu não entendesse... parece que vc cortou um pedaço do texto!
mas gostei do final, uma coisa bem novela da globo. haosuhauishaius
Eu gosto do jeito que tu escreve!
hahahaha paiaça, eu escrevi rindo, quiçá vcs... eu to tranquila bein, Murphy tá aqui do meu ladinho, mas a gente tem convivido em boa harmonia (aham (Y))
Precisamos marcar outra breja pra jogar conversa fora e falar merda né? Saudades master da sua pessoa!!!
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